Guigó-da-caatinga: um primata quase extinto
Guigó é o único primata exclusivo da Caatinga. A destruição do bioma ameaça diretamente sua sobrevivência.
O guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae) é um primata exclusivo do Brasil, criticamente ameaçado de extinção. Sua população é estimada em menos de mil indivíduos, dos quais aproximadamente 250 são adultos reprodutivos. A espécie é restrita a fragmentos de Caatinga na Bahia e em Sergipe, estados onde enfrenta a severa destruição de seu habitat.
Características
Também conhecido como sauá, o guigó-da-caatinga é de pequeno porte, com o corpo medindo de 35 a 40 centímetros. Sua cauda pode chegar a 55 centímetros de comprimento. A espécie pesa entre 1 e 2 quilos, e sua pelagem apresenta tons de amarelo, marrom e preto. A cabeça e as extremidades são mais escuras, enquanto a cauda é laranja.
O guigó vive em áreas arbóreas e matas de cabeceira. São ágeis e bons escaladores, por isso, gostam de ocupar as árvores mais altas. Esses primatas são monogâmicos e vivem em pequenos grupos familiares, compostos por um casal e seus filhotes.
Territorialistas, os guigós vocalizam em conjunto, o conhecido “canto do guigó”. O som pode ser ouvido a longas distâncias, servindo de aviso para que outros animais não invadam seu território.
O guigó-da-caatinga adota dieta variada, composta por frutas, folhas, caules, insetos e sementes. Ao se alimentar de frutas, ele desempenha importante um papel na dispersão de sementes, promovendo a regeneração da vegetação na Caatinga.
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Reprodução
A fêmea da espécie gera, em média, um filhote por ninhada. O ritmo lento de reprodução, aliado à baixa taxa de sobrevivência devido às ameaças que enfrenta, coloca em risco a recuperação do primata. Para que a população de guigós-da-caatinga tenha chances de se manter geneticamente viva ao longo dos próximos 100 anos, seriam necessários pelo menos 250 indivíduos reprodutivos em um ambiente livre de ameaças.
No entanto, dos 47 fragmentos florestais onde a espécie ainda vive, apenas seis possuem condições suficientes para sustentar uma população que garanta sua sobrevivência de longo prazo.
Ameaças e risco de extinção
O principal desafio enfrentado pelo guigó-da-caatinga é a rápida degradação de seu habitat, uma vez que a espécie depende de áreas arbóreas para sobreviver. O desmatamento para a criação de pastagens, a expansão da agricultura e da urbanização, fragmentam cada vez mais o ambiente onde esses primatas vivem.
A destruição desenfreada da Caatinga compromete diretamente a sobrevivência do guigó, o único primata exclusivo do bioma. Além disso, outros fatores ameaçam diretamente a vida do guigó, como atropelamentos em rodovias, eletrocussão em fios elétricos e ataques de cães domésticos.
A ausência de áreas protegidas agrava ainda mais a situação, dificultando a proteção da espécie. Embora ocorra em Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), não está presente em nenhuma unidade de proteção integral.
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Estudos apontam que a sobrevivência do guigó depende urgentemente de ações coordenadas, como a proteção dos últimos fragmentos de seu habitat, a criação de unidades de conservação e a ampliação das leis de proteção ambiental. Sem essas medidas, o guigó-da-caatinga pode desaparecer para sempre.
Turismo de observação
Apesar de ameaçado, ainda há poucos estudos sobre o guigó-da-caatinga. Por se camuflar nas árvores, também não é fácil encontrar o primata. A guia de turismo de observação de fauna, Cristine Prates, que trabalha com a observação do primata desde 2021, aposta na Chapada Diamantina como a melhor região para encontrá-lo. O trabalho de Cristine contribui para entender como o animal se comporta, além de aumentar o interesse pela observação de primatas, atividade que pode ajudar a proteger a espécie.
Referências
ICMBio – INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Vol. 2. Brasília, DF: ICMBio/MMA, 2018.
ICMBio – INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Análise de viabilidade populacional do guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae). Brasília, DF: ICMBio, 2018.