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Pangolim: de mamífero mais traficado do mundo a possível hospedeiro do novo coronavírus
Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o pangolim ganhou as manchetes dos jornais por ser o possível hospedeiro intermediário do patógeno. Um estudo divulgado pela revista científica Nature, em março, indicou semelhança de 85,5% a 92,4% entre o vírus encontrado em pangolins e o SARS-CoV-2. Embora a relação entre o mamífero e a pandemia atual não tenha sido comprovada, aumentou-se a discussão sobre a relação entre o tráfico de animais silvestres e o surgimento de novas doenças.
Encontrado na Ásia e África, o pangolim é o mamífero mais traficado do mundo. De acordo com a organização não-governamental World Wildlife Fund (WWF), sua carne é considerada uma iguaria em países como a China e o Vietnã, tendo suas escamas utilizadas na medicina tradicional.
Na china, as escamas são usadas para promover a circulação sanguínea e aumentar a lactação em mulheres grávidas, enquanto a carne do pangolim é empregada em tônicos. Na Nigéria, partes do corpo do animal são utilizadas para tratar doenças físicas e psicológicas, mesmo sem comprovação cientifica, o que contribui ainda mais com a caça indiscriminada.
Embora a venda do mamífero seja proibida pela Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) desde 2017, as redes criminosas que comercializam o pangolim não param de crescer.
A maior parte dos indivíduos traficados tem como destino o Leste e o Sudeste Asiático. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUNC) estima que cerca de 900 mil pangolins tenham sido traficados nas últimas duas décadas, uma média de 125 por dia. Apenas a Nigéria, polo de exportação de pangolins, apreendeu pelo menos 51 toneladas de escamas de pangolim nos últimos anos.
Quem são? Onde vivem?
Existem oito espécies de pangolim que podem ser encontradas em dois continentes. Quatro vivem na África: pangolim-de-barriga-preta (Phataginus tetradactyla), pangolim- de-barriga-branca (Phataginus tricuspis), pangolim-gigante-de-terra (Smutsia gigantea) e pangolim-de-Temminck (Smutsia temminckii).
A outra metade pode ser encontrada na Ásia: pangolim-indiano (Manis crassicaudata), pangolim-filipino (Manis culionensis), pangolim-sunda (Manis javanica) e pangolim-chinês (Manis pentadactyla).
Esses animais são conhecidos por sua armadura completa de escamas. Eles são solitários e possuem hábitos noturnos. Quando se sentem ameaçados, eles cobrem a cabeça com as patas dianteiras, mostrando suas escamas para prováveis predadores. As escamas afiadas que possuem na cauda também são utilizadas para defesa.
Sua coloração varia entre o amarelo e o marrom. Chegam a pesar até 33 quilos, sendo os machos normalmente são mais pesados que as fêmeas. Possuem garras grandes e afiadas, o que permite a escavação no solo para a construção de abrigos e busca por alimento. Desempenham um papel importante na mistura e aeração do solo, favorecendo a renovação dos nutrientes e o ciclo de decomposição, proporcionando um substrato saudável para o crescimento da vegetação.
Proteção ao pangolim
Para evitar futuros riscos à saúde pública e frear o tráfico intenso do animal, a China decretou, em junho, proteção máxima ao pangolim e outras espécies silvestres. Suas escamas também foram retiradas da lista oficial de produtos que podem ser utilizados na medicina tradicional. A expectativa é que a medida ajude na recuperação das populações do mamífero, em vias de extinção.
Em maio, a cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, na China, já havia proibido o comércio e consumo de animais silvestres por cinco anos. O anuncio ocorreu após estudos relacionarem a pandemia com o comércio de animais silvestres, extremamente comum na China. Estima-se que 60% das doenças infecciosas emergentes são de origem animal e a maior parte delas provêm de espécies silvestres.