Peixe-elétrico da Amazônia libera maior descarga já registrada no mundo animal
Pesquisadores descobriram recentemente duas novas espécies do peixe-elétrico poraquê na Amazônia. Uma delas é capaz de liberar uma descarga de até 860 volts, a maior voltagem já registrada em um animal. Até então, o recorde era de 650 volts. A pesquisa, que durou cinco anos, foi um esforço de mais de 20 pesquisadores do Brasil e Estados Unidos, com apoio da Fapesp, Instituição Smithsonian e National Geographic Society.
O poraquê é um peixe-elétrico que vive na América do Sul e pode chegar a 2,5 metros de comprimento. Há cerca de 250 tipos de peixes-elétricos, que produzem descargas fracas, usadas para navegação e comunicação. O poraquê é o único que produz descargas elétricas fortes, exploradas para caça e defesa. Elas são produzidas por três órgãos elétricos.
Até então, acreditava-se que existia apenas uma espécie de poraquê, mas pesquisadores encontraram o peixe em ambientes distintos, sugerindo uma diferenciação. Análises morfológicas e genéticas revelaram que são três espécies. A primeira, Electrophorus electricus, foi descrita em 1766 pelo naturalista sueco Carl Linnaeus. Agora, ela nomeia apenas animais que vivem no extremo norte da Amazônia, no chamado Escudo da Guiana, que abrange o norte do Amapá, Amazonas e Roraima, além de Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Já a Electrophorus varii foi encontrada na região mais baixa da bacia amazônica.
A dona da maior voltagem é a Electrophorus voltai, que ocupa áreas mais altas, com corredeiras e cachoeiras, do chamado Escudo Brasileiro, no sul do Pará e do Amazonas, Rondônia e norte de Mato Grosso. O nome foi uma homenagem ao físico italiano Alessandro Volta, que criou a primeira bateria elétrica, em 1799, justamente após se inspirar nos poraquês.
Embora seja uma descarga forte, não chega a ser letal para o ser humano porque o choque é muito curto, de um a três segundos de duração. “Apesar de representar quase oito vezes a descarga produzida por uma tomada comum (as tradicionais em casa emitem 100 volts), o efeito é menos pior do que colocar o dedo na tomada, que traz uma descarga contínua, apesar de voltagem mais baixa”, explicou o zoólogo brasileiro que liderou o estudo, David de Santana, do Museu Nacional de História Natural, da Instituição Smithsonian, dos Estados Unidos. Contudo, se uma pessoa estiver em um rio cercada por mais peixes da espécie poderia ser um problema. De acordo com Santana, quando um animal descarrega, os outros também o fazem e, nesse caso, um ser humano nessas circunstâncias poderia ter uma parada cardíaca ou morrer por afogamento.
As descobertas sobre os poraquês estão sendo exploradas em diferentes áreas, como teste das enzinas produzidas pelos órgãos elétricos como componentes para produção de medicamentos para possíveis tratamentos de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, ou como modelo para a criação de baterias para próteses e sensores implantados em humanos.