A árvore mais alta da Amazônia
Cientistas brasileiros e britânicos identificaram a árvore mais alta da Amazônia: o angelim vermelho (Dinizia excelsa), com 88,5 metros. Sua altura é um recorde para a floresta, que até então tinha registro de árvores com no máximo 70 metros. Na mesma área do gigante, pesquisadores encontraram outros exemplares de angelim com mais de 80 metros.
Entre 2016 e 2018, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) capturou imagens de vastas extensões da floresta amazônica com tecnologia a laser. Foram rastreadas 850 áreas, cada uma com 12 quilômetros de comprimento e 300 metros de largura. Em sete, os cientistas identificaram árvores que superavam os 80 metros. A maioria estava localizada na região do rio Jari, afluente do rio Amazonas, entre os estados do Amapá e Pará, numa zona remota de difícil acesso. Trinta pessoas participaram de uma expedição para verificar os gigantes in loco. A equipe escalou árvores para coletar material botânico e validar a altura e descobriu que todas as árvores eram da mesma espécie.
Os pesquisadores acreditam que a altura recorde está relacionada com a grande distância de áreas urbanas e zonas industriais – o local onde os angelins foram encontrados está a mais de 200 km da ocupação humana -, ou essas árvores podem ser uma “espécie pioneira”, ou seja, a primeira a habitar uma região que sofreu algum tipo de devastação.
Eric Bastos Gorgens, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e coordenador do estudo, considera a existência de uma árvore com 88 metros de altura extraordinário e raro. Segundo o professor, crescer em altura é um desafio para a flora. “As árvores altas são mais propensas à quebra e à queda, seja por vento ou por não aguentar o próprio peso. As rajadas causam um torque na base da árvore, levando a um alto estresse. Outro fator que limita o crescimento em altura é o suprimento de água para copa. À medida que as árvores se tornam mais altas, o aumento da resistência hidráulica e o peso da coluna de água aumenta o estresse hídrico”, explicou.
Para Gorgens, a descoberta é uma prova de como ainda se conhece pouco sobre a floresta e mostra a importância da preservação. “Toda vez que a ciência encontra algo nunca antes imaginado, acende um alerta voltado para a preservação. Imagina a quantidade de plantas, animais, insetos entre outras coisas que ainda estão para ser descobertos”, afirmou.
Os gigantes angelins exercem papel fundamental no ciclo do carbono. De acordo com os cientistas, cada espécime é capaz de armazenar até 40 toneladas de carbono. Isso equivale à capacidade de absorção de 300 a 500 árvores pequenas. “Nossa descoberta significa que a floresta pode ser um reservatório de carbono maior do que se pensava”, dizem Tobias Jackson, da Universidade de Cambridge, e Sami Rifai, da Universidade Oxford, coautores da investigação.
A expectativa é que esse tipo de pesquisa ajude a entender melhor a estrutura da Floresta Amazônica e seu papel no ciclo global de carbono. Como o estudo foi centrado em uma área muito pequena, os cientistas acreditam que é possível que existam outras árvores gigantes, inclusive mais altas que a de 88 metros.
O angelim vermelho é detentor do recorde de árvore mais alta da Amazônia. O mundial é uma sequoia-vermelha dos Estados Unidos, de 115,7 metros (38 andares). O tropical é uma shorea faguetiana de 100,8 metros, na Malásia.