Espécie da vez

Cágado-de-hogei está criticamente ameaçado de extinção

Cágado-de-hogei está criticamente ameaçado de extinção
Crédito: Bruno Tinti

O cágado-de-hogei ou cágado-do-Paraíba (Mesoclemmys hogei), espécie endêmica (exclusiva) do Brasil, foi classificado como criticamente ameaçado na nova lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Este é o último passo antes de ser considerado extinto na natureza.

Ele pode ser encontrado no bioma Mata Atlântica, na bacia do rio Paraíba do Sul, no estado do Rio de Janeiro e sul de Minas Gerais, até o rio Itapemirim, nas regiões costeiras do estado do Espírito Santo. O cágado-de-hogei é o único quelônio de água doce ameaçado no Brasil.

A espécie habita preferencialmente locais de remanso próximos às corredeiras e se alimenta de frutos de figueira, espécie arbórea comum nas margens do rio Carangola, por exemplo.

Embora ainda não haja muitos estudos sobre a espécie, acredita-se que seu ciclo reprodutivo é anual e o período de desova corresponde ao final dos meses chuvosos e início da estação seca, de março a abril. O tamanho médio da ninhada é de seis ovos (5-7). Há evidências de que a eclosão dos ovos coincide com o início do período chuvoso.

Ameaças

Sua distribuição associada à bacia do rio Paraíba do Sul constitui o principal risco à sobrevivência da espécie, pois a bacia está entre as mais degradadas de todo o país, devido, especialmente, ao desmatamento, forte expansão demográfica e ao intenso, diversificado e desordenado desenvolvimento econômico ocorrido no último século.

Além disso, estão sendo planejados empreendimentos hidrelétricos no médio-baixo Paraíba do Sul, abrangendo locais onde a espécie foi registrada.

Conservação

O rio Carangola, um dos locais de ocorrência da espécie, agora é também um santuário do cágado-de-hogei. Esta é a primeira reserva natural dedicada à preservação de uma única espécie aquática.

Em setembro deste ano, a Fundação Biodiversitas inaugurou a Reserva Ninho da Tartaruga, em Tombos, na Zona da Mata de Minas Gerais. A reserva abrange seis quilômetros do rio Carangola, em uma área-chave para conservação do cágado. Além de concentrar uma das últimas populações da espécie no rio, pesquisadores acreditam que a área parece ser também um sítio de nidificação.

Os cerca de 100 hectares foram adquiridos pela Biodiversitas com apoio da Rainforest Trust e Turtle Survival Alliance, grupos conservacionistas internacionais, sendo o primeiro voltado para a proteção de florestas tropicais e espécies ameaçadas e o segundo com foco na conservação de quelônios ameaçados em todo o mundo.

Também são parceiros do projeto o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Répteis e Anfíbios (RAN), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio); o Centro de Estudos Ecológicos e Educação Ambiental (CECO); e a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) – Campus Carangola.

“A proteção e o manejo do seu hábitat associada ao estímulo à participação das comunidades locais nessa iniciativa traz uma esperança para a recuperação da espécie”, afirma a bióloga Gláucia Drummond, Superintendente Geral e Presidente da Fundação Biodiversitas. A expectativa da organização é que com a reserva, outras espécies também sejam preservadas.