Espécie da vez

Traídos por sua própria beleza: venda ilegal de marfim devasta populações de elefantes

Traídos por sua própria beleza: venda ilegal de marfim devasta populações de elefantes
Crédito: Reprodução/uncg.edu

Cinquenta e quatro elefantes morrem, em média, por dia na África, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Atualmente, estima-se que a população de elefantes seja algo entre 420 mil e 650 mil espécimes. Em 1980, eram 1,3 milhão. A União Internacional para Conservação da Natureza concedeu à espécie o status de vulnerável. Os animais são vítimas de caçadores impiedosos, que arrancam seus chifres para revender no mercado negro.

Um quilo de marfim vale cerca de US$ 3 mil. Considerando que duas presas pesam até 115 quilos, a perseguição aos elefantes pode não parar tão cedo. Os principais destinos do mercado clandestino são, respectivamente, China e EUA. Em gestos simbólicos para demonstrar seus compromissos contra o tráfico, ambos os países mandaram destruir seis toneladas de marfim entre 2013 e 2014. Mesmo assim, na cultura da potência asiática, o material permanece associado a status e riqueza.

O tráfico movimenta até US$ 20 bilhões por ano e financia confrontos em países africanos. O grupo al-Shabaab, o braço somali da al-Qaeda, obtém US$ 600 mil por mês com esta atividade econômica. Estudos realizados nos últimos cinco anos estimam que as guerras civis na República Democrática do Congo e na República Centro-Africana erradicaram de 50% a 90% da população de elefantes destes países. O mesmo ocorreu décadas antes em Moçambique, Namíbia, África do Sul, Zimbábue e Angola.

Para Matthew Brown, diretor de Conservação na África da ONG The Nature Conservancy (TNC), a única maneira de acabar com a devastação dos elefantes é diminuir a demanda pelo marfim, o que significa aumentar a conscientização de seu mercado consumidor. Uma pesquisa realizada recentemente na China por sua organização constatou que 40% das pessoas que compram produtos feitos com este material mudariam de ideia se conhecessem sua origem.

“Há uma lacuna de informação, e preenchê-la é o nosso maior desafio. Se houver redução da demanda, o marfim perderá valor, e os elefantes não serão incomodados como hoje. Os traficantes só assumem o risco porque existe uma alta recompensa. Por isso, os governos também devem aumentar o rigor de suas leis contra o tráfico”, afirma Brown.

O Pnuma elegeu Angola como a sede do próximo Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho, justamente pelo pacote de ações do país para conservar e reconstruir a população desses animais. Entre as medidas está a revisão do Código Penal, prevendo infrações mais severas contra os caçadores ilegais. Botswana, Gabão e Namíbia também são elogiados por fechar o cerco ao comércio clandestino de bichos.

Outra iniciativa para proteger os elefantes é um censo inédito, iniciado há dois nos e capitaneado por Paul Allen, cofundador da Microsoft, dedicado à contagem e ao deslocamento dos animais pelo continente. Allen investiu US$ 8 milhões em sobrevoos por 20 países africanos. Os números finais só devem ser divulgados nos próximos meses, mas sua equipe já admitiu o espanto com algumas situações. Em entrevista a uma rádio neozelandesa, um dos consultores afirmou ter contado 42 carcaças em apenas duas horas e meia na Tanzânia. Embora o governo deste país esteja concebendo novos projetos para a conservação dos animais, 66% da população nacional da espécie teria morrido nos últimos quatro anos.

Destruição do habitat

Além da caça implacável pelo marfim, os efefantes sofrem ainda com a perda de habitat. Em 1995, 26% da área continental africana era utilizada para o deslocamento destes animais. Em 2010, eles foram encurralados em 15% da área.

Estima-se, conforme reportagem do O Globo, que atualmente 29% da população de elefantes sejam prejudicados por fatores como aumento da população humana, urbanização e expansão da agricultura. Este índice pode chegar a 63% em 2050. Com o habitat cada vez mais fragmentado, os animais ficam expostos ao se movimentar em busca de água e alimentos.

Curiosidades

– Existem três espécies principais de elefantes no mundo: o asiático, o africano das savanas e o africano das florestas. Até 12 mil anos atrás, havia também o gênero mamute;

– O elefante africano é o maior animal terrestre, pesando, em média, cinco toneladas;

– Um elefante adulto consome mais de 150 quilos de comida e até 160 litros de água por dia;

– Elefantes não enxergam muito bem, mas têm o melhor faro do reino animal. Eles podem sentir o cheiro da água a até 20 quilômetros de distância;

– Elefantes podem pressentir chuva a 240 quilômetros de distância;

– O grito de um elefante, chamado de barrito, pode chamar outros animais que estejam a até oito quilômetros de distância;

– Para evitar queimaduras de sol, os elefantes cobrem o corpo com areia ou lama;

– Durante a época do acasalamento, os animais se tornam agressivos e podem atacar os humanos. Cerca de 400 pessoas são mortas por elefantes anualmente;

– A gestação dos elefantes dura de 20 a 22 meses (quase dois anos!);

– A tromba do elefante é uma mistura de nariz com lábio superior e é usada para segurar alimentos e absorver água. Quando o animal está dentro d’água, a tromba serve como um snorkel, permitindo a respiração;

– O elefante é o único mamífero que não consegue pular;

– Elefantes homenageiam os mortos, tocando suavemente seus ossos com as patas. Quando passam pelo lugar em que outro elefante morreu, eles param e ficam em silêncio por alguns minutos.

Fontes: O Globo e Uol