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Espécie da vez

Arara-azul: bela, inteligente e altamente ameaçada

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Arara-azul: bela, inteligente e altamente ameaçada
Crédito: João Marcos Rosa/Nitro

Pode ser vista voando ou, com mais facilidade, andando pelo chão, pendurada nos cachos de frutos das palmeiras e pousada nas árvores. Sempre barulhentas e “conversadeiras”, vivem em casais e trocam carinhos constantemente. Assim é a arara-azul. De nome científico Anodorhynchus hyacinthinus esta bela ave também é conhecida como arara-azul-grande, arara-preta, araraúna e arara hiacinta.

Sua beleza e inteligência são as principais causas de sua classificação: ameaçada de extinção no Brasil (MMA, 2003), listada no Apêndice 1 do CITES (Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção) e vulnerável de acordo com a IUCN (União Mundial para a Conservação da Natureza).

A espécie já desapareceu do Paraguai e o maior motivo disto é o tráfico, seguido pela destruição de seus habitats pelo desmatamento para serrarias, pasto e outros cultivos e pela caça praticada por índios que retiram suas penas para fabricar e vender artesanato. No Brasil, desde 2005, é proibido aos índios matá-la para artesanato, mas é permitido que realizem tal prática em cerimônias e outros usos dentro das reservas.

A ave era comumente encontrada em grande parte do território brasileiro, porém, atualmente, é achada no Pantanal, abrangendo pantanal boliviano, paraguaio e brasileiro, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, bem como no norte do país, nos estados do Amazonas e Pará e na região de “Gerais” que incluem territórios do Maranhão, Bahia, Piauí, Tocantins e Goiás. Conforme dado do Projeto Arara Azul, infelizmente não existem informações suficientes para afirmar se estão formando uma população única, interligadas e cruzando entre si ou se as mesmas estão desconectadas, geograficamente separadas, formando três populações: Pantanal, Amazônia e “Gerais”. Em estudos recentes desenvolvidos pelo Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP, em parceria com o Projeto e outros, foram encontrados marcadores diferentes que sugerem uma variação na composição genética da população. Agora esses estudos estão sendo ampliados para confirmar ou não esta informação.

Brincalhona e fiel

Do grupo das aves, está entre as mais inteligentes. É social e vive em família, bandos ou grupos. É difícil ver uma arara-azul sozinha em vida livre. Jovens e casais não reprodutivos se reúnem em dormitórios, que além de proteção, parecem funcionar como verdadeiros “centros de troca de informações”. É muito comum observarmos as araras vocalizando (parece que conversam umas com as outras), executam preening (um indivíduo coçando ou fazendo limpeza de penas no outro), brincam umas com as outras e com galhos, flores, folhas das árvores que estão pousadas.

Geralmente são fiéis ao parceiro e dividem a tarefa de cuidar dos ovos e filhotes. O pico de reprodução pode variar, mas, em geral, acontece de setembro a outubro, sendo que a criação dos filhotes pode estender-se até janeiro ou fevereiro do ano seguinte. A taxa de reprodução é baixa e alguns casais só se reproduzem a cada dois anos, característica que contribui ainda mais para ameaçar sua sobrevivência.

A fêmea costuma botar de um a três ovos em dias diferentes, sendo a média dois. É ela quem fica no ninho chocando e sendo, nesse período, alimentada pelo macho. A incubação do ovo dura de 28 a 30 dias.

Alimentação

A arara-azuil é um psitacídeos (espécie que possui cabeça larga e robusta onde se apoia um bico forte, alto e curvo especializado para quebrar e descascar sementes). Sua dieta é constituída basicamente por sementes de palmeiras, que elas consegue quebrar facilmente com a potência do seu bico. Na região pantaneira, alimenta-se de acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata), enquanto que, na região paraense, de inajá (Maximiliana regia), babaçu (Orbiguya martiana) e tucumã (Astrocaryum sp). Já nas regiões secas, come licuri ou catolé (Syagrus coronata), piaçava (Attalea funifera), buriti (Mauritia vinifera) e pidoba (Orbiguya eicherii). No Mato Grosso do Sul, onde se concentra praticamente todas os animais da espécie, o local mais frequente de alimentação é no chão, seja no campo ou nas proximidades das sedes de fazendas. Nestes casos, elas estão se alimentando da castanha-do-acuri, cujo mesocarpo (polpa) já foi retirado por outros animais, principalmente o gado e outros animais silvestres. No período de frutificação das bocaiúvas, elas são vistas se alimentando diretamente nos cachos.

Tráfico de animais silvestres

Segundo o biólogo Daniel Filipe Dias, analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), apenas 10% dos filhotes retirados dos ninhos para abastecer o mercado negro sobrevivem. Relatório da Polícia Federal revela, que, todos os anos mais de 38 milhões de animais selvagens são retirados ilegalmente de seu hábitat no país, sendo 40% exportados.

No Mato Grosso do Sul, houve uma grande redução do tráfico, graças ao trabalho de divulgação e envolvimento da população efetuado pelo Projeto Arara-Azul.

Projeto Arara-azul

De iniciativa pessoal de Neiva Maria Robaldo Guedes bióloga da Conservação, mestre em Ciências Florestais, doutora em Zoologia, pesquisadora e professora; o Projeto estuda a biologia e relações ecológicas da arara-azul-grande, zela pela conservação da espécie em seu ambiente natural, monitorando ninhos naturais e artificiais (postos pelo projeto para incentivar a reprodução) numa área de mais de 400 mil hectares. O projeto conta com apoio de proprietários de terra e realiza ações permanentes de sensibilização com comunidades sobre as araras.

Tudo começou quando Neiva viu, em novembro de 1989, um bando de araras azuis Anodorhynchus hyacinthinus no Pantanal. Ela se maravilhou com as cerca de 30 aves pousadas em um galho seco e, quando soube que a espécie estava ameaçada de extinção decidiu fazer algo para que isso não acontecesse.

Assim, surgiu o Projeto Araran Azul, que se tornou marco e símbolo de sua proteção, sendo internacionalmente reconhecido.