Após passarem alguns dias no Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama para serem examinados e observados, os animais apreendidos são direcionados a criadores comerciais, projetos conservacionistas ou de soltura, como é o caso do Asas. Lá, eles passam por um período de readaptação, quando reaprendem a voar e a se alimentar de insetos e outros elementos disponíveis na natureza. Os animais reinseridos em seu habitat natural recebem uma anilha para que seja possível identificá-los e monitorá-los após a soltura – o que também inibe sua captura por traficantes ou intermediários do tráfico.
A propriedade onde o projeto está inserido tem cerca de 300 hectares e possui áreas de Mata Atlântica, Cerrado e Campos. Com objetivo de facilitar a readaptação das aves foram plantadas centenas de árvores frutíferas como o jamelão, amora, goiaba, seriguela e palmito-juçara. Essa iniciativa tem colaborado de forma significativa para o sucesso do Asas, enriquecendo e diversificando a alimentação das aves após a soltura no ambiente natural.
Entre 2012 e 2014 foram encaminhadas ao projeto 559 aves de 25 espécies, sendo Passeriformes e Psitaciformes. Entre 2015 e 2017 foram encaminhadas 392 aves e um gato-do-mato, os quais foram soltos na natureza. Entretanto, alguns papagaios-verdadeiros (A. aestiva) não tiveram condições de permanecer em vida livre, devido ao seu alto nível de domesticação/mansidão e foram recapturados.
Atualmente, os papagaios-verdadeiros reintroduzidos já estão se reproduzindo na natureza, o que demonstra sucesso na reabilitação e readaptação da espécie na área de soltura. O fato também vem ocorrendo com outras espécies, como o trinca-ferro (Saltator similis), sabiá (Turdus sp.), azulão (Cyanoloxia brissonii), curió (Sporophila angolensis), tico-tico (Zonotrichia capensis), coleiros (Sporophila sp.) e canário-da-terra (Sicalis flaveola).
“O trabalho desenvolvido com papagaios-verdadeiros, especificamente, apresenta algumas características de pioneirismo, pois existem poucos projetos de soltura dessa espécie com resultados satisfatórios em decorrência de a mesma manter um grau de identificação e dependência muito grande com seres humanos, dificultando sua readaptação no meio ambiente natural“, explica João Paulo Vasconcelos, responsável técnico pelo projeto.
O projeto é de extrema importância para proteção das aves silvestres, além de conscientizar a população que, muitas vezes, alimenta o tráfico sem saber de suas graves consequências. Para propagar que lugar de ave é na natureza, em diversas ocasiões, o Asas leva alunos de escolas da região para acompanhar a soltura dos pássaros.
Tráfico de Animais Silvestres
A Amda acredita que a redução ou mesmo paralização de captura de animais silvestres só acontecerá realmente quando não houver compradores, pois são eles que alimentam o tráfico. Estima-se que, anualmente, só no Brasil, 38 milhões de animais são retirados de seus ambientes naturais por meio de práticas covardes e cruéis. De cada 10 animais capturados na natureza, apenas um chega vivo ao seu destino final. Minas Gerais, além de “fornecer” animais para esta atividade ilegal, é rota de passagem de traficantes que vêm do Nordeste, Norte e Noroeste do país.