Opinião

Pontes, rodovias, anel viário, não compensam soterramento da Mata Atlântica em Brumadinho

*Maria Dalce Ricas

É revoltante e inaceitável a falta de transparência por parte do Estado, no que se refere à compensação ambiental pela tragédia de Brumadinho. A começar pelo acordo judicial firmado com a Vale, sem envolvimento da sociedade, que poderia ter ajudado muito na definição de prioridades e ações.

O acordo prevê projetos de compensação ambiental pelo danos causados sob o parâmetro “a Semad decide e a Vale faz”. Já perguntamos tantas vezes se algo foi definido e o quê, que nos tornamos “chatos”.

Não temos dúvidas de que a compensação deve focar na proteção de ambientes naturais do bioma Mata Atlântica ainda existentes em Brumadinho, já que o impacto da lama sobre a biodiversidade animal e vegetal foi predominantemente local. E o parâmetro deve ser, em nosso entendimento, estabelecer conexão entre o Parque do Rola Moça e a APE Rio Manso (que pleiteamos que seja transformada em unidade de conservação integral), criando uma grande área legalmente protegida do bioma que continua sendo destruído no Estado.

A Amda encaminhou propostas nesse sentido e tememos pelo que será definido, pois até o momento nenhuma compensação (ao contrário da área “social” que incluiu até construção de pontes no Norte de Minas, onde não chegou uma gota de lama) foi dada à sociedade. Ironicamente, Romeu Zema pretende se reeleger pela tragédia, usando o dinheiro da Vale em obras, que podem ser importantes, mas não compensam o gigantesco impacto ambiental decorrente da ruptura da barragem.

Nas respostas lacônicas que recebemos, a Semad informa ações de saneamento, segurança hídrica e outras. Mas nada sobre compensar os quase 300 ha de Mata Atlântica soterrados pela lama e o número que nunca será conhecido de animais silvestres mortos.

*Maria Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda.