Opinião

Fatores ESG: investidores priorizam empresas comprometidas com os padrões sociais, ambientais e de governança

*Por Mariana Gmach Philippi

A relação existente entre a atração de investimentos e as práticas adotadas pelas empresas na sociedade vem sendo reconfigurada em âmbito nacional e internacional.

Os fatores ESG (do inglês, environmental, social e governance) dizem respeito aos aspectos ambientais, sociais e de governança corporativa de uma empresa e, no mercado financeiro, têm ocupado o centro das discussões a respeito da gestão de fundos e investimentos.

Da mesma forma como consumidores se tornam cada vez mais seletivos em suas escolhas de consumo, avaliando de modo mais crítico padrões relacionados à sustentabilidade, investidores mundo afora incluem os fatores ESG em seu processo decisório no momento de selecionar empresas e fundos para alocar seus recursos.

É inegável a pressão global para que os processos produtivos e práticas de mercado guiem-se por condutas sociais, ambientais e de governança responsáveis, inclusive em razão de tratados internacionais que refletem essa preocupação. Mas não é esta a única razão para a incorporação dos fatores ESG no mercado financeiro. Essa mudança reflete também a conscientização, por parte dos investidores, de que empresas sustentáveis tendem a ser mais conscientes dos riscos e oportunidades relacionados à sua atividade, além de mostrarem-se mais resilientes em longo prazo. Justamente por isso, apresentam boas perspectivas de crescimento e competitividade, com menores riscos associados, o que atrai investidores.

Trata-se de uma verdadeira revolução no mercado financeiro. Segundo relatório produzido neste mês pela PwC², o investimento pautado em critérios ambientais, sociais e de governança é a mudança mais significativa em gestão de recursos das últimas duas décadas. O estudo destaca que, até 2025, 57% dos ativos de fundos mútuos na Europa estarão em fundos pautados nos critérios ESG, o que representa o equivalente a 8,9 trilhões de dólares.

Se na Europa a valorização dos fatores ESG já é uma realidade institucionalizada, no Brasil o tema tem ganhado os holofotes no mercado financeiro. No último mês, a XP anunciou o lançamento do BlackRock Global Impact³ , fundo local que investe apenas em empresas sustentáveis. O lançamento do fundo faz parte da estratégia da XP de alavancar empresas focadas nos fatores ESG e está alinhada à crescente demanda dos investidores por ativos sustentáveis.

Para integrar o fundo, as empresas precisam: (i) atender, em sua atividade principal, a um ou mais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS; (ii) entregar solução para problemas sociais ou ambientais; (iii) apresentar seus resultados de modo claro, transparente e quantificável.

Importa ter em mente que a preocupação com as questões ambientais, sociais e de governança não está restrita a empresas que fornecem produtos e serviços tidos como sustentáveis. Para ser considerada uma empresa realmente alinhada aos fatores ESG, é importante que a preocupação com os vieses ambiental, social e de boa governança seja incorporada em toda a lógica da empresa, da produção à relação com os colaboradores, clientes e fornecedores. Trata-se, em última análise, de uma mudança de postura por parte das empresas, independente de seu ramo de atuação.

Assim, embora os investimentos em empresas consideradas ESG sejam crescentes – com uma perspectiva ainda maior de crescimento para os próximos anos –, os critérios utilizados pelos fundos e investidores em geral para qualificar uma empresa à captação desses investimentos tendem a ser bastante rigorosos. O objetivo é justamente evitar que o padrão ESG venha a ser banalizado no processo de captação de recursos.

Assim, para comunicar de modo inconteste seus resultados ambientais, sociais e de governança, as empresas necessitam primar pela transparência na divulgação das informações. Para tanto, a elaboração de Relatórios Integrados, que vão além do aspecto financeiro, é essencial. Também se faz necessário documentar e comprovar a adequação, por parte da empresa, à legislação ambiental, social e de governança corporativa, incidentes sobre sua atividade.

Às empresas que saem na frente e se adequam ao padrão ESG, as oportunidades, inclusive financeiras, saltam às vistas. De outra ponta, àquelas que optarem por permanecer alheias às mudanças podem, em um futuro não muito distante, não mais conseguir acompanhar o ritmo incessante de transformação do mercado e da sociedade em geral.

Mariana Gmach Philippi é Advogada atuante em advocacia empresarial sustentável. Doutoranda e Mestre em Direito Socioambiental e Sustentabilidade. Especialista em Finanças Sustentáveis e Investimentos de Impacto.
Fonte: EcoDebate