Opinião

Califórnia torna energia solar obrigatória em novas casas

*André Trigueiro

Mais rico e populoso estado americano, a Califórnia é conhecida por seu protagonismo tecnológico e capacidade de promover inovação em diferentes setores da economia com repercussão direta no resto do planeta.

Ao se tornar o primeiro estado dos EUA a tornar obrigatória a instalação de energia solar em todas as novas residências (a medida entra em vigor em 2020), a Califórnia dá um gigantesco passo para popularizar essa fonte de energia limpa e renovável num ritmo sem precedentes.

Pelas novas regras – aprovadas por consenso pela Comissão Estadual de Energia -, os sistemas fotovoltaicos poderão ser instalados individualmente (em cada unidade separadamente) ou coletivamente (uma única instalação abastecendo várias construções ao mesmo tempo).

A novidade deverá encarecer as construções entre US$ 8.000 (R$ 31 mil) e US$ 12 mil (R$ 46,5 mil), mas o resultado compensa. Calcula-se que o custo adicional das parcelas de uma hipoteca padrão (de 30 anos) seria de cerca de US$ 40 (R$ 155) mensais.

Por outro lado, a economia estimada no consumo de energia para aquecimento, refrigeração e iluminação dos ambientes seria de aproximadamente U$ 80 (R$ 310) mensais, o que confirma a inteligência do investimento.

Um sinal de que o mercado já "precificou" a guinada da Califórnia na direção da energia solar é que os principais representantes do setor construtivo apoiaram as novas regras. Já os fabricantes do kit solar (são várias peças e equipamentos) festejam a projeção de crescimento de 44% na demanda.

Na contramão do que vem fazendo o governo Trump, que estimula abertamente os combustíveis fósseis (especialmente o carvão mineral) e levou os Estados Unidos a serem o único país do mundo a rejeitar o Acordo de Paris, a Califórnia já tem uma lei em vigor determinando que pelo menos 50% de toda a energia consumida no estado venha de fontes limpas e renováveis até 2030.

Há uma revolução em curso quando se considera a popularização das baterias capazes de armazenar a energia solar (a Tesla, de Elon Musk, já lançou os modelos powerpack e powerwall), permitindo que o usuário se beneficie da força que vem do astro-rei mesmo quando o sol não estiver brilhando no céu.

Na prática, essas baterias (desenvolvidas justamente na Califórnia) significam a autonomia energética do usuário, que não dependerá, como hoje – talvez apenas em circunstâncias extremas -, das redes de distribuição.

O "sonho californiano" nunca foi tão real quando o assunto é energia. Todos os caminhos levam ao Sol.

André Trigueiro é jornalista especializado em gestão ambiental, professor da PUC-Rio e do Coppe, da Universidade Federal do Rio.

Fonte: Folha de São Paulo