Paira sobre 2017 uma ameaça sobre o acordo climático
*Reinaldo Dias
É inegável que num período de um ano houve avanços significativos em relação ao aquecimento global. Em dezembro de 2015 foi assinado o Acordo de Paris que passou a vigorar em tempo recorde, em novembro de 2016. No mês de outubro passado foi assinado o Acordo de Kigali para eliminação do uso dos hidrofluorocarbonos (HFC) em aparelhos de refrigeração, considerado o maior passo dado até agora na diminuição do aquecimento global, pois os HFCs são um dos mais nocivos gases para o efeito estufa.
Porém esses avanços foram superados no noticiário com a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos o que apontava para um retrocesso em toda luta contra as mudanças climáticas.
E não é para menos. Durante a campanha eleitoral Trump afirmou que o conceito de mudanças climáticas havia sido criado pelos chineses com o objetivo de prejudicar a economia norte-americana. Ridicularizou o trabalho dos cientistas ao perguntar onde estava o aquecimento global se as cidades de Nova York e Los Angeles estavam baixas temperaturas. Afirmou, ainda, que tinha planos de cancelar o Acordo de Paris, de parar de apoiar os programas da ONU sobre o aquecimento global e defendeu a reativação da indústria carbonífera nos Estados Unidos como forma de diminuir o desemprego.
Quando muitos pensavam que essas declarações tinham cunho populista e decorriam do ambiente eleitoral, eis que após as eleições além de reafirmar, através de seus assessores, que sua política continuará sendo de negação das mudanças climáticas, surgem os nomes da nova administração pública norte-americana caindo por terra qualquer ilusão de que foram somente declarações inconsequentes.
Ficando apenas em dois nomes expressivos já escolhidos dá para se ter uma ideia do que está por vir. Para a Secretaria de Estado, Trump escolheu Rex Tillerson, atual CEO da Exxon Mobil, empresa criticada pelos efeitos de seus negócios sobre o meio ambiente, desde o derramamento do navio Exxon Valdez nas costa do Alaska em 1989 e além disso por financiar grupos que questionam os efeitos humanos nas mudanças climáticas.
Para a Agencia de Proteção Ambiental (EPA) foi indicado o procurador-geral de Oklahoma, Scott Pruit, conhecido por negar as mudanças climáticas e que, provavelmente, diminuirá a capacidade regulatória ambiental nos Estados Unidos, além de liberar completamente o fracking, método de exploração do petróleo e gás altamente contaminante, mas que para Trump dará mais autonomia aos Estados Unidos diante dos países árabes e outros distribuidores globais de petróleo.
Há muitas outras medidas já tomadas que poderiam ser relacionadas, mas de modo geral não são boas notícias para o meio ambiente.
Resta esperar que além de resistência às mediadas pela sociedade norte-americana, Trump como homem de negócios, perceba que diminuindo a participação norte-americana na geração de energia limpa poderá deixar o pais a reboque de outras economias que apostam na via de baixo carbono para aumentar sua competitividade.
Nesse caso, o efeito seria o contrário do esperado por Trump. Ao invés melhorar a economia norte-americana, esta perderia sua competitividade por apostar em formas de energia insustentável e poderia ser superada pelos chineses, pois estes já anunciaram sua predisposição em ingressar com ímpeto na economia verde.
*Reinaldo Dias é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.
Fonte: EcoDebate