Opinião

Até 2020, 67% das espécies de vertebrados poderá deixar de existir

*Mariana Napolitano

No sábado (03/03) foi comemorado o Dia Mundial da Vida Selvagem, data reservada para se falar sobre o que os cientistas têm alertado durante décadas: o fato de que a existência de muitas espécies está sendo pressionada pelas ações humanas na direção de uma sexta extinção em massa. O relatório do Planeta Vivo, divulgado no segundo semestre de 2016, aponta que, em média, a abundância das espécies de vertebrados diminuiu 58% desde 1970 e, se as atuais tendências continuarem, até 2020 esse declínio chegará a 67%. Mesmo quando as metas projetadas pelas Nações Unidas são de acabar com a perda da biodiversidade até 2020.

Parece uma mensagem um tanto catastrófica, mas as evidências nunca foram tão fortes. A lista vermelha da IUCN ratifica essa constatação ao assinalar que mais espécies estão ameaçadas de extinção ou, então, que algumas espécies estão cada vez mais ameaçadas de extinção. Em termos de diversidade de fauna e flora, as florestas tropicais estão entre os ecossistemas mais ricos do planeta e que sofreram a maior perda de área. O LPR fala de 48,5% do habitat das florestas tropicais que foram convertidos para uso humano, até os anos 2000.

A onça-pintada, por exemplo, é um dos animais emblemático das florestas tropicais brasileiras. Até a década de 1960 eram numerosas na Mata Atlântica, mas com a quase extinção do bioma, o maior felino das Américas corre sério risco de desaparecer. Em um estudo publicado recentemente, a revista Scientific Reports revelou que menos de 300 onças estão presentes no bioma e suas populações encontram-se isoladas em apenas 3% do que resta de Mata Atlântica. Para se ter uma ideia, somente no Parque Nacional do Iguaçu, a quantidade da espécie caiu 90% nos últimos 20 anos.

Já o índice do Planeta Vivo Aquático apresentado no estudo mostra que a abundância das populações monitoradas no sistema aquático sofreu uma queda geral de cerca de 81% entre 1970 e 2012. Esses números estão baseados nos dados de 3.324 populações monitoradas de 881 espécies aquáticas. Os pesquisadores sugerem que são as pressões decorrentes de atividades humanas não sustentáveis, como a agricultura, a pesca, a mineração, a sobre-explotação, as mudanças climáticas e a poluição, que contribuem para a perda de habitat e a degradação do meio ambiente terrestre e aquático. E, segundo eles, os efeitos não recaem apenas sobre plantas e animais selvagens, mas, nós, seres humanos, também somos vítimas de nosso comportamento de deterioração da natureza.

Uma maneira prática de compreender a relação entre as ações humanas e a os limites que o planeta aguenta é por meio dos cálculos da Pegada Ecológica feitos pela Global Footprint Network, organização internacional pela sustentabilidade, parceira global da Rede WWF, que indica que estamos consumindo cerca de 50% além da capacidade regenerativa anual da Terra.

Os custos deste excesso estão se tornando cada dia mais evidentes com a seca extrema, a escassez de água doce, a erosão do solo, a perda de biodiversidade, o acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera e a ameaça à forma de vida de muitos povos indígenas e populações tradicionais que dependem dos recursos naturais como meio de vida. Estudos recentes sugerem que os prováveis índices de extinção, atualmente, sejam de até 100 a 1.000 extinções por 10.000 espécies em 100 anos, o que é muito elevado. Isso leva a crer que nós estamos mesmo à beira da sexta extinção em massa.

Considerando toda essa trajetória e nosso papel central de fazer uma mudança para modos sustentáveis e resilientes de produção e consumo, temos motivo para ter esperança. No entanto, essa transição deve ser urgente. Uma série de mudanças significativas precisam acontecer no sistema econômico global para promover a perspectiva de que nosso planeta possui recursos finitos. Precisamos reconhecer o valor e as necessidades de nosso planeta Terra, cada vez mais frágil, e gerar consciência de que as agendas social, econômica e ambiental devem caminhar juntas. É imprescindível que protejamos a vida selvagem.

A data de sábado foi criada em 2013 pela ONU a fim de reafirmar o valor essencial das espécies selvagem. E o Brasil, País que possui a maior biodiversidade do planeta, precisa agir agora e tomar ações decisivas para que mecanismos sejam criados para promover o melhor aproveitamento do solo; que os serviços ambientais providos pelas florestas, por exemplo, a regulação climática e a segurança hídrica, sejam valorizados; além de incentivar o melhor ordenamento e gestão territorial; a consolidação e criação de áreas protegidas levando em conta uma paisagem mais ampla, a promoção de cadeias produtivas, entre outras ações cotidianas que podem garantir uma efetiva redução na pressão sobre os recursos naturais e a vida selvagem ao redor do mundo.


*Mariana Napolitano é coordenadora do Laboratório de Ciências do WWF-Brasil

Fonte: O Eco