Opinião

Ecoturismo no Brasil: um sonho possível?

*Leide Takahashi

Vários modelos de negócios vêm mostrando ao mundo que desenvolvimento e conservação da natureza podem ter uma forte relação, devem andar juntos e, diferentemente do que se pensava, não barram o desenvolvimento da economia. Ao contrário, podem ser rentáveis. Bons exemplos dessa aliança vêm do setor de turismo, com o Turismo Ecológico e o Ecoturismo.

Atualmente, o Turismo Ecológico cresce de 15% a 25% ao ano. Em todo o mundo, 10% dos turistas buscam esse tipo de atração. Para estimular este mercado, a Organização das Nações Unidas (ONU) determinou que 2017 será o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento.

Alguns países já têm uma cultura de parques mais amadurecida, como os Estados Unidos. Os locais de visitação têm uma melhor infraestrutura, com diferentes opções que complementam os atrativos naturais, e divulgação, provocando envolvimento da população. Em abril de 2016, o Serviço de Parques norte-americano divulgou um relatório com diversos dados, tais como que parques nacionais contribuíram com US$ 32 bilhões para a economia nacional, gerando 295 mil postos de trabalho em 2015. Para cada US$ 1 investido em um parque, US$ 10 são movimentados.

Recentemente, nossa instituição publicou um estudo de valoração de cinco parques paranaenses. Juntos, eles geram, ao todo, cerca de R$ 80 milhões de reais. Em Curitiba, a Unidade de Conservação (UC) valorada foi o Parque Natural Municipal Barigüi, que soma R$ 43 milhões em benefícios valorados por ano. O estudo também incluiu quatro parques estaduais (PE): PE das Lauráceas (R$ 18,7 milhões), entre Tunas do Paraná e Adrianópolis; PE de Vila Velha (R$ 13 milhões), em Ponta Grossa; PE Pico do Marumbi (R$ 4,4 milhões), em Morretes, Piraquara e Quatro Barras; e PE do Cerrado (679 mil), em Jaguariaíva.

Se conseguirmos impactar com números os administradores locais e conscientizá-los para que invistam o montante gerado pelos parques na comunidade local e na proteção do meio ambiente, estamos estimulando o crescimento do Ecoturismo. A contratação de mão de obra local e capacitação da comunidade para as atividades turísticas são fundamentais para a implantação bem-sucedida dessa opção de lazer.

O Brasil tem muitos atrativos naturais, mas falta planejamento para torná-los melhor aproveitados pela população.Precisamos de mais investimentos em ações que sigam os princípios estipulados pela Sociedade Internacional do Ecoturismo (TIES – The International Ecotourism Society). Ações que desenvolvam consciência ambiental, cultural e respeito, gerem benefícios financeiros para os moradores locais e para a indústria privada e que proporcionemexperiências interpretativas memoráveis aos visitantes.

Exercer a nossa cidadania é cobrar medidas para facilitar a criação de mais unidades de conservação, pedir por incentivos para fazer com que parques nacionais tenham melhor infraestrutura para receber os visitantes e trabalhar com educação ambiental nessas áreas, fazendo com que as pessoas entendam que preservar a natureza é garantir o nosso presente e o futuro das próximas gerações de cidadãos.


*Leide Takahashi é consultora em planos de manejo e uso público em diferentes unidades de conservação federais, estaduais e privadas, membro da Comissão Mundial de Áreas Protegidas CMAP/IUCN-Brasil e gerente de Projetos Ambientais da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza

Fonte: Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza