A produção de carros elétricos dispara e a China assume a liderança
*José Eustáquio Diniz Alves
A produção global de veículos elétricos plug-in (cuja bateria utilizada para alimentar o motor elétrico pode ser carregada diretamente por meio de uma tomada) aumentou mais de 10 vezes entre 2011 e 2015, passando de cerca de 50 mil unidades para mais de 500 mil unidades. A China que estava atrás dos Estados Unidos, União Europeia e Japão, assumiu a liderança em 2015 e tende a responder por mais da metade da produção mundial nos próximos anos.
A China já é líder na produção de energia eólica e solar. Depois de se tornarem a número 1 na produção e venda de veículos elétricos no ano passado, o governo chinês está planejando um aumento de mais de 1.000% nas vendas até 2025. Para tanto, está oferecendo subsídios que podem totalizar 60% do preço de etiqueta de cada modelo, como mostra artigo de Joe Romm, no site Think Progress (03/09/2016).
A China considera que os Veículos Elétricos (EV em inglês) são a tecnologia fundamental para o transporte de baixo carbono, além de incentivar a penetração das energias renováveis na rede elétrica. Dois vetores aceleram a indústria de EV na China: 1) os altos níveis de poluição nas cidades; 2) o desejo de liderar e criar um mercado de exportação de produtos de uma indústria que, segundo a Agência Internacional de Energia, deve ser hegemônica até 2050.
Segundo a Bloomberg New Energy Finance (BNEF) um terço de todos os carros vendidos no mundo até 2040 serão elétricos, pois os preços das baterias estão caindo tão rapidamente que em meados da década de 2020, os EVs competirão com os carros movidos a gasolina diretamente no preço de etiqueta (e sem subsídios).
Ironicamente, a China saltou para a liderança global nesta tecnologia, essencial para o processo de descarbonização da economia, a partir do desafio lançado por Elon Musk, que em 2006, disse pretender tornar a Tesla Motors na líder mundial na produção de carros e baterias elétricas. Como mostrei em artigo anterior (Alves, 31/08/2016), existem dúvidas se Elon Musk vai conseguir efetivar todos os seus planos de produção. Além do mais, no dia 01 de setembro um foguete Falcon 9, da empresa SpaceX, também de Musk, explodiu antes do lançamento em Cabo Canaveral (Flórida, EUA), destruindo o satélite Amos 6 que fazia parte da Internet.org, em parceria com o Facebook e custava cerca de US$ 95 milhões. A explosão do foguete da SpaceX fez a fortuna de Musk encolher US$ 779 milhões em apenas um dia.
Enquanto isto, a China avança na mudança da matriz energética, com sua imensa capacidade de produção, sua montanha de dólares em reservas internacionais e a grande capacidade de subsídio do governo. Além reduzir os impostos, a China está exigindo que os carros elétricos respondam por pelo menos 30% do total de veículos comprados pelo governo até o final de 2016.
Existem, no "Império do Meio", cerca de 200 startups de Veículos Elétricos (EV). Enquanto Tesla planeja a venda de 400.000 unidades de seu principal modelo, a firma chinesa, BYD (fabricante de automóveis com sede em Shenzhen) já vendeu mais EVs do que a Tesla, a GM e a Nissan juntas. A empresa (na qual a Berkshire Hathaway, de Warren Buffett, tem uma fatia de 9% das ações) tem 18% de participação no mercado de veículos de novas energias da China. No salão de Pequim, a BYD comercializará seu novo SUV, chamado The Yuan, que será vendido de forma competitiva a partir de US$ 32 mil.
Portanto, o governo chinês está promovendo o que considera um setor estratégico para seu projeto de potência mundial. O plano é superar 3 milhões de unidades por ano em 2025, contra cerca de 300 mil em 2015. Em fevereiro, o premiê Li Keqiang exortou o governo local e os operadores do setor a acelerarem a construção de instalações de recarga para acomodar 5 milhões de veículos elétricos em 2020. Sair da produção de carvão mineral e dos motores a combustão é a alternativa para evitar o "arpocalipse" e reduzir as mortes por problemas respiratórios, especialmente nas megacidades.
Sem dúvida, há uma revolução em curso no sentido de avançar com as energias renováveis e diminuir a dependência dos combustíveis fósseis. Carros elétricos vão avançar rapidamente. A Bloomberg New Energy Finance estima que as vendas de veículos elétricos devem chegar a 41 milhões de unidades em 2040, representando 35% do total de cerca de 120 milhões de veículos novos.
Infelizmente, os últimos governos brasileiros resolveram investir centenas de bilhões de dólares em refinarias de petróleo (inacabadas) e no chamado "bilhete premiado" do pré-sal, jogando o Brasil no fundo do poço de uma tecnologia ultrapassada, cara, poluidora e emissora de gases de efeito estufa. O Brasil está bastante atrasado na produção de energias renováveis, lento na transição para a nova matriz de energia mais limpa (eólica, solar, etc.) e totalmente distante da produção de veículos elétricos, quando comparado com Estados Unidos, União Europeia, China, Coreia do Sul, etc.
Mas, como escrevi no outro artigo, embora chegar a 100% de energia renovável seja fundamental, nenhuma revolução energética, por si só, será capaz de sustentar uma sociedade consumista em constante crescimento, que degrada o meio ambiente e destrói os ecossistemas. Assim, não basta avançar com a produção de veículos elétricos, pois isto apenas encheria de carros as vias públicas das cidades, congestionando as ruas e agravando a imobilidade urbana.
O mundo precisa democratizar e socializar a energia solar e a produção de veículos elétricos, ampliando a democracia em todos os seus aspectos, no sentido de melhor o padrão de vida da coletividade e da simplicidade voluntária, evitando o egoísmo e a ganância do individualismo.
*José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate