Voluntários, o maior legado olímpico para a conservação
*Michel de Souza Rodrigues dos Santos
O mundo parou em frente à televisão no dia 5 de agosto: por volta das oito da noite, começava a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O que veio depois você já sabe: muitos elogios à festa no Maracanã, seguidos por dias intensos de medalhas, glórias e decepções.
Alguém pode imaginar que nada disso seria possível sem o Comitê Organizador, patrocínios e, claro, os atletas, grandes protagonistas? Essa pessoa teria razão. Mas a verdade é que existe outra classe indispensável à realização de um evento dessa magnitude. Acertou se a palavra voluntários veio à sua cabeça.
No dia 28 de agosto, celebra-se o Dia Nacional do Voluntariado. E a época não poderia ser mais propícia: a Rio 2016 teve cerca de 50 mil voluntários, e outros milhares estarão a postos durante as Paraolimpíadas.
E refletindo sobre o legado que esses jogos deixarão não apenas para o Rio, mas também para o país, desejo que o voluntariado esteja entre eles, principalmente por ser intimamente ligado ao sucesso da conservação ambiental, tema que ganhou generoso destaque na linda cerimônia de abertura dos jogos e alcançou sua maior audiência: três bilhões de pessoas ao redor do planeta.
Aproximar a sociedade dos problemas e, principalmente, das soluções de mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas é um dos maiores desafios desse século, se não o maior.
E no Brasil, ele passa diretamente pela dupla voluntariado e unidades de conservação – áreas naturais preservadas por lei com a função de manter a biodiversidade, sequestrar carbono da atmosfera, garantir a prestação de uma série de serviços ambientais indispensáveis à vida, além de prevenir o desmatamento – uma das principais fontes de emissão de CO2 na atmosfera.
No mês de julho, aniversário do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), com apoio da Coalizão Pró Unidades de Conservação da Natureza (Coalização Pró UCs), o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) divulgou instrução normativa atualizando o Programa de Voluntariado, que existe desde 2009 e cujo objetivo é aproximar a sociedade da gestão de 325 unidades de conservação no país.
A expectativa é de que os voluntários conheçam a importância de conservação dessas áreas (muitas das quais em espaços urbanos, como o Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro) e multipliquem o conhecimento ampliando a rede de proteção desse patrimônio brasileiro.
Em sua nova versão, o Programa contempla linhas como manejo para conservação, a gestão socioambiental e a pesquisa e monitoramento. Se, entre 2009 e 2015, mais de cinco mil voluntários se credenciaram para trabalhar nas unidades de conservação, a previsão com o novo escopo é alcançar ao menos 1.500 novos voluntários em 2016, e outros 3.000 em 2017.
É esse o único caminho possível para garantir que o país cumpra seu potencial de liderança global na temática ambiental – influenciar os cidadãos, como eu e você, a participar ativamente da conservação da natureza, e assim estimular que outras pessoas sigam o mesmo caminho. Um patrimônio como o que temos deve ser cuidado por quem de direito: a sociedade.
Para tanto, há uma série de rotas possíveis, e uma delas passa pelo envolvimento empresarial. E a boa notícia é que existem plataformas dedicadas à conexão entre ONGs que buscam voluntários, as pessoas físicas interessadas, o poder público e a iniciativa privada. Uma delas chama-se V2V (Volunteer to Volunteer) do Portal do Voluntariado. Os números impressionam: são mais de 190 mil usuários da plataforma, 50 mil ações voluntárias e 600 instituições cadastradas.
Que tal ser mais um deles?
*Michel de Souza Rodrigues dos Santos é especialista em Políticas Públicas do WWF-Brasil, trabalha há mais de 10 anos com sustentabilidade
Fonte: O Eco