Educação Ambiental e Saúde Pública
*Antonio Silvio Hendges
Educação ambiental (EA) são os processos através dos quais os indivíduos e a sociedade constroem valores, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à conservação do meio ambiente como um espaço coletivo, essencial à qualidade de vida presente e futura dos meios físicos e sociais. A educação pressupõe a atuação nos processos socializadores dos indivíduos e grupos. Se estes processos estão relacionados com fatores e aspectos socioambientais, são indispensáveis abordagens pedagógicas com base nos conceitos e práticas da EA. Entre as dimensões da EA, estão suas contribuições para a promoção da saúde pública, desde a prevenção de doenças, endemias e epidemias até as ações diretas de intervenção em ambientes ou comunidades de risco quanto a diversos aspectos ambientais.
Esta área de ação conjunta entre a educação ambiental e a saúde pública está relacionada ao vínculo social entre estes dois campos em que ambos estão para a sociedade como direitos coletivos, ao mesmo tempo em que os impactos e transformações ambientais configuram-se como problemas que se agravam nas agendas das gestões públicas em diferentes esferas administrativas. A Agenda 21, documento resultante da Conferência da ONU Rio-92 estabelece uma relação direta entre a qualidade ambiental, os processos educativos e a promoção da saúde pública.
O Sistema Único de Saúde (SUS) e os diversos programas de atendimento como o Programa Saúde da Família, Programa de Assistência à Saúde da Criança, formação de Agentes Comunitários de Saúde, também incorpora em suas ações a dimensão ambiental, tornando o sistema de assistência à saúde um instrumento essencial para a promoção das questões relacionadas ao meio ambiente e a educação como promotoras da prevenção e mesmo das soluções necessárias.
As ações educativas de prevenção primária, em períodos pré patogênicos, sejam de doenças específicas ou de condições gerais de higiene e cuidados com o ambiente são fundamentais para estabelecer conexões nas ações individuais, comunitárias e dos serviços públicos de atenção primária. Na mobilização das comunidades, nos planejamentos, nos diagnósticos socioambientais e de prováveis endemias e/ou epidemias, nas análises e avaliações, a EA é uma ferramenta estratégica com amplas possibilidades de usos e metodologias na promoção da saúde pública e de melhorias em outros aspectos sociais e ambientais, inclusive utilizando-se de conhecimentos e práticas locais para a sua realização.
Na realização dos diagnósticos socioambientais, é indispensável que se destaquem as questões ambientais, sejam às famílias individualmente ou das comunidades. Aspectos como a origem e qualidade da água, disposição e destino dos resíduos, coleta e tratamento dos esgotos, espaços verdes e de lazer, economia e consumo familiar e relações socioculturais são fundamentais à construção e intervenção eficaz dos projetos e ações de atenção primária à saúde. Na mobilização individual ou comunitária também utilizam-se metodologias pedagógicas com base na EA, aproveitando-se, por exemplo, de datas comemorativas e/ou eventos locais para a divulgação de informações de interesse coletivo.
Na aquisição de hábitos saudáveis e preventivos em relação ao fumo, álcool ou outras substâncias, a EA também é uma ferramenta eficaz, facilitando a identificação, os contatos com os indivíduos ou famílias e o encaminhamento adequado aos tratamentos e/ou ações necessárias individualmente e às comunidades, evitando-se conflitos e atitudes que possam resultar em problemas socioambientais complexos ou mesmo em violência. Indispensável uma abordagem que considere o meio ambiente socialmente construído para o enfrentamento destas questões. Em educação ambiental, não se deve ter um enfoque moralista, policial ou de exclusão, mas a busca de soluções integradas que respeitem a dignidade e os direitos humanos dos envolvidos.
Na prevenção de doenças transmitidas por vetores como mosquitos, ratos e animais abandonados, a educação ambiental é indispensável à responsabilidade e consciência coletiva, acondicionando-se e dispondo-se adequadamente os resíduos para coleta, evitando-se o descarte de objetos como pneus e outros que acumulam água em terrenos baldios ou locais inapropriados e inclusive exigindo dos poderes públicos ações preventivas e saneadoras dos problemas identificados.
São muitas as atividades que relacionam a saúde pública e a educação ambiental, sendo grande parte dos agravos à saúde diretamente relacionados com fatores ambientais, considerando-se que as alterações e condições ambientais interferem diretamente na saúde e na qualidade de vida dos indivíduos e comunidades, tornando o meio ambiente e as condições de saúde indissociáveis.
Algumas ações de educação ambiental diretamente relacionadas à saúde pública e qualidade de vida:
– Mobilização comunitária para a resolução de problemas específicos às comunidades;
– Reuniões de lideranças para análise e busca de soluções dos problemas socioambientais;
– Atividades locais de comércio de produtos e serviços feitos nas comunidades, como artesanato, alimentos, roupas e outros, valorizando os conhecimentos e práticas locais;
– Desenvolvimento de atividades culturais e artísticas que valorizem e resgatem conhecimentos e práticas locais, como música, teatro, dança, jogos e outras manifestações integradas às representações sociais coletivas;
– Prevenção de doenças transmissíveis por vetores como a dengue, leptospirose, raiva e outras zoonoses, possibilitando a organização de ações que tenham como base o equilíbrio e a qualidade do meio ambiente;
– Exigência de políticas públicas direcionadas aos aspectos socioambientais, segurança educação, transporte, saúde, inclusão digital, melhorando as condições de acesso das comunidades aos recursos disponíveis à qualidade de vida;
– Capacitação de agentes comunitários e de educação ambiental que estimulem e orientem para a formação local de redes de ação e de comunicação que facilitem intra e inter comunidades a busca de soluções conjuntas aos problemas ambientais identificados;
– Produção de conteúdos e de materiais educativos, como panfletos, jornais, programas de rádios, entrevistas, palestras, oficinas e cursos que estimulem práticas saudáveis e a colaboração comunitária.
– Prevenção de endemias e epidemias transmitidas por vetores como insetos, ratos, animais abandonados, etc.
*Antonio Silvio Hendges é articulista no EcoDebate, professor de Biologia, pós graduação em Auditorias Ambientais, assessoria e consultoria em educação ambiental.
Fonte: EcoDebate