Opinião

Lenine dá exemplo para salvar manguezal

*Emanuel Alencar

O cantor e compositor pernambucano Lenine acompanha, há dois anos, o crescimento da floresta de mangue encravada na última área preservada da Baía de Guanabara. Não de longe, num grupo de Watsapp, ou dando dinheiro para as ações de recuperação. Mas botando a mão na massa, ou melhor, na lama. Na última sexta-feira, ele foi à Área de Proteção Ambiental (APA) de Guapimirim, na Região Metropolitana do Rio, participar de um mutirão de reflorestamento do Projeto Uçá, que, financiado pela Petrobras, promove ações socioambientais. O nome faz referência a uma espécie de caranguejo que habita a região.

Lenine viu de perto a força da natureza em se recuperar, mesmo em condições adversas. A pequena muda de mangue que ele havia plantado em 2013 – ocasião em que conheceu o Projeto Uçá – chegou aos 2,5 metros de altura. Se a urbanização e a industrialização, principalmente a partir da metade do século XX, impuseram graves danos à baía fluminense, na APA a lógica ainda remete aos tempos pré-coloniais. Capitaneados pela iniciativa privada ou decorrentes de obrigações de licenciamento, diversos programas já garantiram a recuperação de 80 hectares nos últimos anos. E mais 20 hectares de mangue deverão ser recuperados até 2017. Ao todo, a APA de Guapimirim preserva incríveis 5.500 hectares.

O chefe da APA, Maurício Muniz, comenta que o maior desafio agora é buscar áreas passiveis de recuperação fora dos limites da unidade de conservação. Explica-se: criada em 1984, a APA de Guapimirim está tão bem preservada que quase não há mais áreas disponíveis para receber novas mudas. "Nossa luta vai muito além dos limites da unidade", diz ele. "Resolvemos iniciar um programa dentro da APA para mostrar que era possível, sim, realizar recuperação florestal, como resposta à inércia da Petrobras em implementar suas condicionantes de recuperação florestal na bacia dos rios Guapimirim e Macacu".

O placar até agora é favorável, mas jogo não está ganho. Lenine viu uma profusão de lixo no mangue. "Apesar de todos os esforços do Projeto Uçá, ainda vi muita garrafa pet, borracha, plásticos… Cada ser tem que aprender a lidar com isso. Não existe terreno baldio. O terreno baldio é o planeta", alerta o artista, que acredita ser possível recuperar a Baía de Guanabara: "Não tenho dúvidas disso. O homem tem todo o poder de destruição. Mas tem essa coisa do sonho, da realização. A natureza é sábia. Se a gente der um empurrãozinho, ela segue em frente".

*Emanuel Alencar é editor de conteúdo do Museu do Amanhã, é jornalista formado pela UFF, mestrando em Engenharia Ambiental e trabalhou como repórter do jornal O Globo

Fonte: O Eco