A Balança Ambiental
*Raimundo Nonato Brabo Alves
Em 13 de agosto de 2015 foi anunciado o "dia da sobrecarga ecológica". A partir desse dia até o final do ano, tudo que for consumido o planeta Terra não terá condição de repor. A humanidade, a partir desse dia fica em dívida com o meio ambiente. Este indicador é uma estimativa da ONG Global Footprint Network, levando em conta as pegadas de carbono e atividades econômicas como a pesca, pecuária, agricultura, construção e água.
Segundo a mesma ONG, este déficit ambiental vem ocorrendo mais cedo a cada ano. Em 1970 o "dia da sobrecarga ecológica" ocorreu em 23 de dezembro. Em 1980 em 3 de novembro. Em 1990 em 13 de outubro. Em 2000 em 4 de outubro. Em 2005 em 3 de setembro e em 2010 em 28 de agosto. Neste ritmo não se sabe até quando estas mensurações serão possíveis. Segundo suas estimativas seriam necessários 1,6 planetas para atender o consumo atual da humanidade.
A balança comercial é o indicador econômico que representa a relação entre o total de exportações e importações de bens e serviços de um país em determinado período. Quando o total de exportações de bens e serviços for superior ao total de importações, registra-se um superávit no saldo da balança comercial. Quando o total de exportações for inferior ao total de importações, registra-se um déficit.
O superávit da balança comercial é considerado um fator positivo na economia de um país, já que mostra que o mesmo está exportando (vendendo) mais bens e serviços do que está importando (comprando). O resultado positivo da balança comercial gera um lucro que pode ser utilizado para investir no próprio sistema econômico do país.
Seria interessante que as nações também quantificassem sua "balança ambiental", para estabelecer um parâmetro de sustentabilidade em suas cadeias produtivas. Se a "balança ambiental" do planeta vem apresentando déficit em elevação a cada década, isso significa o somatório de uma economia predatória das nações em todo o mundo. Representa o aviltamento de recursos ambientais para as gerações futuras, comprometendo até mesmo no – curto prazo – o superávit da balança comercial, principalmente das nações mais pobres.
A pesca predatória é responsável pelo colapso dos estoques pesqueiros, extinção de espécies, desequilíbrio ecológico e falência econômica de populações que dependem dos mares para sobreviver. A pesca industrial se tornou altamente sofisticada na captura dos cardumes em contraponto ao necessário estudo da reposição dos estoques. Segundo a ONG americana Save the Seas houve uma redução de 90% dos estoques pesqueiros em todo o mundo. Há previsões de extinção de espécies nobres. A FAO relata que mais de 70 milhões de tubarões são capturados anualmente para abastecer o mercado asiático de barbatanas. Com menos tubarões houve o aumento de 12 vezes da população de arraias, como consequência do desequilíbrio ecológico nos EUA.
Segundo a FAO a pecuária já é responsável pela emissão de 18% dos GEE. A preocupação é que o setor poderá crescer em 70% até 2050. Estima-se que o setor pecuário emite 7,1 gigas toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2-eq) por ano, representando 14,5% de todas as emissões induzidas por humanos. A produção de bovinos de corte e de leite é responsável pela maioria das emissões, respectivamente contribuindo com 41% e 19% das emissões do setor. A produção de carne suína e de frango/ovos contribuem, respectivamente, com 9% e 8% com as emissões do setor. Porem é possível reduzir essas emissões com boas práticas, inclusive com redução do desmatamento com a eficiência da carga animal por unidade de área,
A FAO afirma que haverá um acréscimo de 70% na demanda por alimentos oriundos da agricultura para suportar uma população estimada em 9 bilhões de pessoas em 2050. O desafio será atender essa demanda via aumento de produtividade ou pela expansão de novas áreas, com repercussão na elevação dos índices de desmatamento. Em ambas as alternativas haverá pressão sobre o meio ambiente.
É claro que para atender uma estimativa de crescimento da população mundial de 30% até 2050, haverá uma demanda na área de construção, tanto habitacional quanto de logística de mobilidade, principalmente em países superpopulosos como Índia e China. Estimativas dão conta de que nos últimos dois anos a China gastou em ferro e cimento o equivalente a 100 anos de consumo dos EUA, para construir a mesma equivalência em estruturas de mobilidade, engenharia e urbanização.
Quanto ao consumo de água todos estão cientes e alguns já vivenciam experiência calamitosa. Estimativas dão conta que quase 800 milhões de pessoas não tem acesso à água no mundo. Em muitos casos o problema não é a falta de água, mais a qualidade de água, pois algumas populações experimentam restrições de consumo as margens de um manancial ou rio extremamente poluído. Este recurso está diretamente vinculado à demanda de 70% de alimentos para os próximos 40 anos, pois a agropecuária é responsável por 70% do consumo de água.
Se nada for feito para reverter o crescente hábito de consumo desenfreado o destino final será a escassez de recursos para as futuras gerações. Nenhuma nação com superávit na balança comercial pode ser considerada sustentável, com sua balança ambiental deficitária. Tomara que a Conferência de Paris seja a luz no fim do túnel.
Referências:
http://br.advfn.com/indicadores/balanca-comercial
http://super.abril.com.br/ciencia/pesca-predatoria
http://www.unicruz.edu.br/seminario/artigos/saude/IMPACTO%20AMBIENTAL%20DA%20EMISS%C3%83O%20DE%20GASES%20PELA%20PECU%C3%81RIA.pdf
https://www.fao.org.br/FAOddma.asp
*Raimundo Nonato Brabo Alves, Colaborador da EcoDebate, é Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental
Fonte: EcoDebate