Queimadas
*Roberto Naime
Gabriel Zacharias, sub-chefe do Prevfogo, serviço de prevenção e combate ao fogo vinculado ao IBAMA, em programa veiculado pela NBR, canal de notícias do governo federal, na tarde de 23/07/14, afirma que dados indicam que cerca de 75% da contribuição brasileira aos gases de efeito estufa provém das queimadas. Queimadas que como se sabe não são uma exclusividade do bioma dos cerrados, mas ocorrem preferencialmente na região geográfica deste bioma natural.
Considerando que os processos de regurgitamento de ruminantes significam grande fonte de geração de gases, fica se imaginando que toda a enorme poluição industrial e a quantidade fantástica de gases produzidos pela combustão da enorme frota veicular do país sejam vistas como um mal menor. Efetivamente representam quantidades menores neste contexto.Mas o que realmente apavora é a importância e a incidência de queimadas, afora os elogiáveis esforços governamentais para controlar esta situação.
Conhecida como "coivara", os sistemas de manejo de solo, desde os tempos dos indígenas utilizam técnicas de queimadas em suas sequências de ações. Mas hoje todos sabem, o próprio governo central através de suas ações contínuas e planejadas, exerce um reconhecimento tácito de que as realidades se encontram fora de controle e precisam ser enfrentadas. É claro que educação é importante, assim como monitoramento, preferencialmente exercido por sensoriamento remoto, mas a gravidade da situação exige uma ampla mobilização e amplo engajamento social.
As queimadas não se limitam a suprimir vegetações. São também muito danosas a espécies animais de todos os portes. Desde microscópicas bactérias desnitrificadoras, que extraem nitrogênio de restos vegetais e o fixam e disponibilizam em solos para outros indivíduos vegetais, até animais de grande porte como tamanduás que pela sua lenta locomoção tendem a ser muito prejudicados. E também por modificações sistêmicas que determinam no ambiente como um todo, dificultando a manutenção de esconderijos até então existentes e vulnerabilizando muito espécies após o encerramento da queimada.
Afora a propensão existente para a ocorrência de queimadas em função de características climáticas envolvendo precipitação pluviométrica e baixa umidade de ar, o fato é que é necessário uma enorme mudança de padrões culturais e uma mudança de paradigmas, que altere de maneira relevante esta realidade.
E que se aborde de maneira adequada a todas as situações. Não é a geração predominante desta maneira de gases de efeito estufa, que torna menos grave a ausência de tentativas e compromissos para a redução de gases na indústria ou diminuição de emanações gasosas na frota automotiva. Um erro não justifica o outro.
O representante do governo federal até admite a existência de queimadas ditas controladas quando se solicita licença e se utiliza de controles como "aceiros" e outras medidas. Mas os males que já se descreveu ocorrem de qualquer forma. Incêndios controlados ounão representam impactos de grandes proporções aos meios físico e principalmente biológico das regiões atingidas, tanto no domínio florístico quanto faunístico.
Os males que ocorrem com a disseminação generalizada de focos de calor e o uso de incêndios controlados ou não no manejo agrícola tem que passar por uma revisão extrema e adequada em curto espaço de tempo e não pode ser admitidos mais com esta tolerância que aparentemente se observa, como se fosse uma realidade inevitável com a qual se necessita conviver de alguma forma.
Os males gerados à saúde humana então são extremos. A ocorrência de moléstias de natureza pulmonar são enormes, sem falar nas consequências para os sistemas respiratórios que são afetados mas não apresentam doenças com características de atendimento patológico, mas que representam sistemas vulnerabilizados igualmente.
A obtenção e manutenção de melhores condições ambientais e melhoria de qualidade de produção e de vida para as populações atingidas não pode mais ser sacrificada ou postergada.
*Roberto Naime é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate