Haiti: o déficit ambiental no país mais pobre das Américas
*José Eustáquio Diniz Alves
O Haiti é o país mais pobre das Américas e tinha um Índice de Desenvolvimento Humano de somente 0,471, em 2013, ocupando a 168º posição entre 187 países. O crescimento demográfico, a baixa produtividade econômica e a degradação ambiental contribuem para o baixo IDH.
A população do Haiti era de 3,2 milhões de habitantes em 1950 e passou para 10,3 milhões em 2013. A densidade demográfica era de 116 habitantes por quilômetro quadrado (hab/km2) em 1950 e passou para 380 hab/km2 em 2013. Na América Latina a densidade demográfica variou de 8 para 30 hab/km2 no mesmo período.
A pegada ecológica do Haiti estava em torno de 0,70 hectares globais (gha) na década de 1960 e caiu para algo em torno de 0,60 hectares globais (gha) em 2010, bem abaixo da média mundial (2,7 gha) e quase 20 vezes menor do que a pegada ecológica do Catar (11,7 gha). Mesmo assim o Haiti apresenta déficit ambiental crescente, pois apesar da queda da pegada ecológica, a biocapacidade per capita diminuiu muito no período, estando em torno de 0,30 gha.
Ou seja, mesmo tendo um baixo consumo de bens e serviços o Haiti tem uma pegada ecológica 100% acima da biocapacidade do país. Isto dificulta as tentativas de reduzir a pobreza e preservar o meio ambiente.
A corrupção política e as ditaduras prejudicam muito o país. Não custa lembrar que no dia 04 de outubro de 2014, morreu Jean Claude Duvalier, mais conhecido como "Baby Doc". Ele teve um ataque do coração quando estava em sua casa em Porto Príncipe, capital do Haiti. "Baby Doc" era filho do também ex-ditador François "Papa Doc" Duvalier, que assumiu o poder do Haiti em 1971, com apenas 19 anos. Destituído em 1986 depois de uma rebelião popular, ele voltou ao país em janeiro de 2011 após 25 anos de exílio na França. O ex-ditadores do Haiti são acusados de crimes contra a humanidade e desvio de fundos públicos.
O Haiti ocupa cerca de um terço do lado ocidental da ilha Hispaniola (primeira terra das Américas visitada por Cristovão Colombo, em 1492), enquanto a Republica Dominicana ocupa o lado oriental da ilha. Cristóvão Colombo encontrou uma maravilhosa floresta na ilha. Nas primeiras décadas do século XX, a floresta tropical do Haiti ainda cobria 60% do território nacional. Nos anos 1950 havia caído para 20% e atualmente restou apenas 2% da cobertura vegetal do país. Segundo estimativas da ONU, cerca de 30 milhões de árvores foram cortadas a cada ano, nas últimas décadas. Como resultado do desaparecimento da vegetação houve redução da fertilidade do solo, aumento da erosão e da desertificação. Assim, as chuvas e os ciclones tropicais (comuns naquela região) aumentam as torrentes de lama, contribuindo para a esterilidade do substrato natural.
Na situação atual, o Haiti, por si só, não tem forças para superar suas dificuldades. Por isto tem crescido a emigração de haitianos. Para mudar o quadro, a comunidade internacional precisa ajudar o país a achar o caminho para a sustentabilidade econômica, social, demográfica e ambiental.
Referências:
Mathis Wackernagel. Além da Pegada Ecológica, 04 jul 2012
http://tvmeioambiente.com.br/alem-da-pegada-ecologica/
Global Footprint Network
http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
WWF. Planeta Vivo, relatório 2014, Switzerland, 30/09/2014
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/relatorio_planeta_vivo/
http://wwf.panda.org/about_our_earth/all_publications/living_planet_report/
*José Eustáquio Diniz Alves é Colunista do Portal EcoDebate, Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE.
Fonte: EcoDebate