Opinião

Incêndios: uma ameaça constante

*Maria Dalce Ricas

Em 2011, Minas Gerais ganhou espaço na imprensa nacional devido aos incêndios arrasadores que destruíram inúmeros ambientes naturais, entre eles o Parque do Rola Moça, que teve quase 90% de sua área queimada. O fogo foi colocado, pela manhã, na margem esquerda da BR-040, sentido BH/RJ, coberta por capim seco, que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), alheio à proteção do meio ambiente, nunca roça.

Sem combate correto, o fogo pulou a rodovia e começou a subir a serra. Os brigadistas que tentaram contê-lo não puderam sequer contar com água para encher as bombas costais, pois a caixa que foi colocada pela Copasa e pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) estava vazia. À noite, o incêndio já havia atravessado a serra e chegado ao outro lado, no vale do rio Paraopeba. Quando alcançou a rodovia que corta o parque, não havia caminhões-pipa para impedi-lo de saltar. E a tragédia completou-se.

Acossado pela imprensa, pressionado pelos ambientalistas e impressionado com a situação, o então governador Antonio Anastasia liberou recursos para fortalecimento do Previncêndio. Além disso, a natureza colaborou: nos dois anos seguintes, a distribuição da chuva foi mais ampla, havia pouca matéria orgânica para queimar, devido ao incêndio de 2011, e os fogos ateados foram debelados.

Para este ano, as previsões são pessimistas. Em muitos locais, a vegetação de maior porte destruída há três anos foi substituída por capim, que se tornou excelente combustível; as chuvas foram poucas e o solo já está seco. Para completar, há grande possibilidade de ocorrência do fenômeno El Niño, que conta com poderosas aliadas: as alterações climáticas. O resultado, segundo especialistas, poderá ser o agravamento dos extremos climáticos – seca e inundações.

Esse cenário deveria ser determinante para o planejamento do Previncêndio, cujo principal objetivo é proteger as unidades de conservação, protetoras de água e redutos de biodiversidade no Estado. Coordenado pelo arquiteto Rodrigo Belo, fundador da ONG Brigada 1 e brigadista de primeira linha, foi muito bem-feito, mas esbarra no quase abandono de nossos parques, APAs e estações ecológicas.

O planejamento prevê, por exemplo, a compra de bombas para captação de água nos locais de combate, cujo transporte depende de veículos 4×4. Em quase todas as unidades de conservação, eles estão quebrados ou em péssimas condições. E são essenciais para transporte de alimentação e dos brigadistas até as linhas de fogo ou próximo delas.

Estradas de acesso, neste momento, são fundamentais. Mas o governo mineiro não destinou um centavo em sua conservação. Gastou tudo no programa "Caminhos de Minas", que obviamente dá mais votos. Não há carro que aguente tanto buraco. E o que é mais revoltante nisso tudo é o fato de os recursos da compensação, recolhidos pela iniciativa privada nos processos de licenciamento para serem aplicados na estruturação das unidades de conservação, terem sido "sequestrados" pelo Governo do Estado.

Que o PSDB tome cuidado. Por menos importante que a temática ambiental ainda seja para a sociedade, incêndios florestais não serão bons aliados nas eleições de 2014.


*Maria Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda

Fonte: revista Ecológico