Poluição do ar deveria virar caso de polícia
*Evangelina Vormittag
Na terça-feira, 25 de março, a Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou os dados mais recentes dos efeitos mortíferos da poluição de ar no mundo. Os dados são chocantes: 7 milhões de pessoas morreram por contaminação do ar em 2012. Isto significa uma em cada oito mortes no mundo resultante da exposição ao ar contaminado. Estes dados mais que dobram as estimativas e comprovam que a poluição do ar é líder ambiental para riscos em saúde e morte. O que pede medidas emergenciais de controle efetivo desse mal e seus efeitos para saúde.
Em relação às mortes provocadas pela poluição do ambiente externo, por fontes móveis (veículos) e fixas (ex. indústrias), contabilizou-se 2,6 milhões de mortes – os números crescem assustadoramente, 30% a mais do que ano anterior. Inúmeras são as publicações científicas e na mídia sobre a gravidade da poluição do ar externo para a saúde no mundo. Particularmente, no estado de São Paulo (17 mil mortes em 2011), de acordo com pesquisa inédita, divulgada pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade no último ano e inúmeras outras realizadas pelo Laboratório de Polução Atmosférica Experimental da Faculdade de Medicina da USP. Uma delas, por exemplo, foi a classificação do poluente material particulado e o ar contaminado como substância cancerígena do Grupo 1, pelo OMS, no ano passado. Embora assim seja vasto o conhecimento sobre tão relevante tema, no Brasil nos deparamos com um dos piores padrões de qualidade de ar do mundo e o mínimo de políticas públicas responsável para salvaguardar os cidadãos brasileiros. Em que planeta vivem nossos governantes?
As mortes relacionadas à poluição do ar em geral são devidas às doenças cardiovasculares, infarto do coração e derrame cerebral, pneumonias, DPOC e câncer do pulmão. Pouco se divulga este assunto, mas as restantes 3,3 milhões de mortes decorreram da contaminação do ar intradomiciliar, a poluição do ar provocada dentro dos domicílios. Cerca de 3 bilhões de pessoas cozinham e aquecem suas casas com fogões e lareiras que utilizam a queima de biomassa, como madeira, esterco animal, resíduos vegetais e carvão. A fumaça e o poluente material particulado podem atingir níveis até 100 vezes maiores que o aceitável dentro das casas. No Brasil, áreas do Nordeste há fogões a lenha em mais de 60% das casas. As regiões da Ásia e do Pacífico são as mais afetadas.
As mulheres e as crianças são a população mais afetada, pois passam mais tempo em seus lares. É a quarta causa de mortalidade em crianças em países em desenvolvimento, estando à sua frente apenas desnutrição, sexo inseguro, falta de água potável e saneamento.
Quase metade das mortes entre crianças menores de cinco anos de idade devido às infecções agudas do trato respiratório inferior são decorrentes da inalação de material particulado de origem da queima de biomassa intradomiciliar.
Mulheres expostas à poluição no interior das casas são três vezes mais propensas a desenvolverem doenças pulmonares obstrutivas crônicas – DPOC (por exemplo, bronquite crônica), do que as mulheres que usam fogões de tecnologia mais limpa.
Há evidências de que a poluição intradomiciliar aumente também o risco de outros importantes problemas de saúde em crianças e adultos, tais como: asma, otite média e outras infecções do trato respiratório superior, tuberculose, cancer nasofaríngeo e laríngeo, catarata, doença cardiovascular, recém-nascidos de baixo peso e mortalidade perinatal.
Os alardes já estão sendo feitos há muito tempo e as informações são precisas. É preciso deixar a população a par deste imenso problema ambiental e de saúde pública que vivemos: o inimigo invisível, inodoro e insípido que é a poluição do ar. O que os olhos não veem o coração não sente. É preciso deixar a população a par do descaso e desinteresse dos governantes, antes das eleições, muito pouco tem sido realizado e a doses ínfimas.
*Evangelina M. P. Araújo Vormittag é idealizadora e diretora presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade, médica, especialista em Patologia Clínica e Microbiologia, doutora e pós doutoranda em Patologia – Saúde Ambiental pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Especialista em Gestão de Sustentabilidade pela Faculdade de Administração da Fundação Getúlio Vargas SP.
Fonte: EcoDebate