Opinião

Maus-tratos a animais: consultem o Dr. Google

*Maria Dalce Ricas

No número anterior, meu artigo foi sobre maus-tratos a animais – que eu mesmo considerei deprimente, apesar de ter como objetivo contribuir para que mais e mais pessoas saibam disto. Decidi que seria interessante dar continuidade ao assunto numa perspectiva mais otimista.

Coincidentemente, enquanto a revista era impressa, pela primeira vez no Brasil, assistimos a uma ousada iniciativa de um grupo de defesa de animais que invadiu o Instituto Royal, na cidade de São Roque (SP), e resgatou 120 cães que eram utilizados em pesquisas.

Imagens mostradas na televisão comprovaram claramente que eles eram maltratados. Aliás, é difícil imaginar que não, pois eram cobaias. No vídeo em que se defende, a empresa informa que uma das linhas de pesquisa é voltada para a cura de câncer e que, ao final, a maior parte dos cães é doada. Ou seja, mesmo depois de submetidos a testes e testes, durante meses, acabam em perfeita saúde. Acredite quem quiser. Mas não é o meu caso.

Os resultados foram imediatos. Diante da repercussão na mídia nacional e internacional e de um abaixo-assinado com quase 500 mil assinaturas, a Câmara dos Deputados aprovou em, regime de urgência, projeto de lei que agrava punições em casos de maus-tratos a cães e gatos. E no último dia 25 de outubro, a prefeitura suspendeu o alvará da empresa.

Assim como proteger o meio ambiente é muito mais que "amar árvore, pássaros e flores", a luta pela defesa dos animais vai muito além da compaixão que sentimos por cães e gatos abandonados ou maltratados. Antes de chegar a drogarias, hospitais e em nossas casas, remédios e diversos outros produtos de uso pessoal percorrem tenebrosos caminhos desconhecidos.

Shampoos são testados em olhos de coelhos, mantidos abertos à força para verificar se não causarão lesões a nós humanos. E diversos outros produtos são aplicados sobre a pele raspada durante dias e dias, até que fique em carne viva para "garantir" sua eficiência. O site www.pea.org.br informa que, anualmente, cerca de quatro a cinco milhões de animais nos EUA são obrigados a inalar e a ingerir (por tubo inserido na garganta) loções para o corpo, pasta dental, amaciantes de roupa e outras substâncias potencialmente tóxicas.

Não dá para entrar em detalhes, mas o fato é que muita gente qualificada afirma que existem alternativas a testes com animais e que os mesmos necessariamente não garantem segurança dos humanos. Um dos exemplos citados é a talidomida, que causou deformações em milhares de fetos pelo mundo.

Indignação somente não resolve. Tem de virar ação. Redução de lucros é a única voz que o capitalismo ouve e entende. Nessa brecha é que podemos entrar enquanto consumidores. No Dr. Google há muitas informações sobre produtos que não fazem testes com animais. Optar por eles no que for possível significa atingir as empresas que não querem mudar sua postura. Mudanças só acontecem quando cada um faz a sua parte.

*Maria Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda

Fonte: Revista Ecológico