Opinião

Precisamos pressionar empresas e governos para dar um basta nas práticas poluidoras

*Donato Velloso

SUSTENTÁVEL 2013, este é um dos melhores espaço inspiradores de ensino e estímulos voltados para a cultura da sustentabilidade promovido anualmente pelo CBDES, do qual o LAGOA VIVA é sempre grato pela oportunidade de participação.

Neste último realizado no Jardim Botânico junto a mais de 400 convidados representantes de diversos segmentos, proporcionando valiosas informações, novas relações, dinâmicas, debates, excelente conteúdo com enorme valor e relevância, onde destaco notáveis mediadores e excelentes palestrantes que semeando uma cultura voltada para a sustentabilidade, se alimentam deste generoso e estratégico momento.

Ao compartilhar experiências e possibilitar reflexões para as novas complexidades, que pouco a pouco vão se incorporando e entrando definitivamente na pauta dos mercados produtivo e do capital, detentores do poder de impor suas leis, de traçar nossos destinos e que tem a força de orientar opções políticas para práticas integradoras para mudanças de paradigma que não só incorporem a meramente supremacia produtiva/comercial/econômica, e assim passar a incorporar nas suas práticas e considerar nos seus relatórios, ativos da natureza, valores intelectual, o bem-estar corporativo e coletivo, qualidade de vida, justiça social e paz. Só assim podem contribuir e ter uma real dimensão da sustentabilidade e avançar neste processo educativo contínuo e permanente que deve permear, antes de tudo, a vida das novas gerações que estão num processo de formação, numa construção de comunidades locais sustentáveis.

Registramos também colocar por conta dos segmentos presentes, o alto custo ambiental decorrente das operações financeiras, que alavancam a febre perniciosa da produção e consumo, e que têm apenas, nem sempre, uma pequena porcentagem dos vultosos lucros investidos na busca de uma sociedade cooperativa, saudável, pacífica e sustentável.

Participações semelhantes e necessárias existem dos que tentam melhorar sua imagem, mas não podemos negar que a concentração do capital está em poucas mãos e mentes, não necessariamente comprometidas com ações sustentáveis, muito menos com a justiça social.

Por onde caminhar hoje se o nosso modo de ser, fazer e ter são insustentáveis? Como aproximarmos de verdadeiros indicadores de sustentabilidade que considerem além dos aspectos sociais, ambientais e econômicos, a questão ética, da cultura, da felicidade, da diversidade, da justiça social, da paz? Para tanto se torna necessário mudanças radicais, definir modelos que mensurem, monitorem e avaliem padrões de sustentabilidade que abrange nossas vidas, mesmo com projetos diferenciados, onde desejos e interesses de hoje sempre diferem para o amanhã, portanto responsabilidade de todos e de cada um de nós.

O sentido de urgência em agir dos governos e das grandes corporações incorporando serviços ecossistêmicos e atribuindo valor a biodiversidade, pagamentos por serviços ambientais, relevando a questão sócio/cultural/ambiental, me faz crer ser boa estratégia para minimizar o efeito negativo das práticas humanas atuais, num processo de degradação sem precedente na nossa história, indiferente a sustentação de sobrevivência em especial dos menos favorecidos num futuro próximo.

Será possível uma ruptura com o modelo excessivo de produção e consumo, que vivenciamos nestas últimas décadas, onde o sistema dominante amortece a tímida pressão dos poucos que buscam o bem-estar do próximo, a solidariedade, a simplicidade, o cuidado ambiental, que evitam a cultura do consumismo perdulário e do desperdício, mas ainda insuficientes para paralisar a reação da nossa casa comum, já presente no luto democrático dos horrores das catástrofes ambientais recorrentes e anunciadas que começamos a pagar.

Quanto tempo mais pensam que o desenvolvimento capitalista sob a tutela de uma minoria poderá fingir e não ouvir o rugir da TERRA, tão violentada, nossa única morada?

Será que as redes financeiras/empresariais estão preocupadas com isto?
Mas agora ou reavaliamos nossos hábitos, respeitando a natureza ou muitos em breve perecerão, estamos experimentando o poder destrutivo dos impactos ambientais, capaz de exterminar milhares de seres vivos.

Não é nada fácil mudanças de paradigma, historicamente essas violências que dizimam povos, disputas de interesses, confrontos, competição em detrimento da cooperação, a exclusão, conflitos, crises, são matrizes forjadas desde os primórdios da humanidade.

O quinto relatório do IPCC, que reúne especialistas e cientistas de todo o mundo, publicado em setembro/2013, confirma e agrava a tragédia que o relatório de 2007 já havia anunciado.Temos todos que pressionar os lideres empresariais, os formuladores de políticas públicas, para dar um basta nas práticas poluidoras responsáveis pela emissão dos gases efeito estufa, priorizar as novas e limpas matrizes energéticas, começando hoje cada um a seu modo reavaliar sua forma de consumo e diminuir sua pegada ecológica.

Será que estamos priorizando agir rapidamente possibilitando oportunidades de capacitação, mobilização e adaptação a tempo de responder preventivamente as crises climáticas, quase simultaneamente a quando elas ocorrerem. É difícil imaginar todas estas coisas realmente acontecendo durante a nossa vida e a vida de nossos filhos e netos.

Só a soma das energias dos indivíduos engajados nessa nova cultura, considerando todos os campos do saber, poderemos unidos fazer das camadas mais populares sujeitos políticos. Só assim acelerar o passo na construção de comunidades mais precavidas, preparadas e sustentáveis.

Saudações ecosustentáveis

*Donato Velloso é presidente do Instituto Ecológico Lagoa Viva

Fonte: EcoDebate