Especísmo e ecocídio: o sumiço das abelhas
*José Eustáquio Diniz Alves
De todas as espécies que estão sendo vítimas do crime de ecocídio – como os tubarões, os elefantes, os rinocerontes, os gorilas, as onças etc – as abelhas são as mais fundamentais para a alimentação humana e a sobrevivência da humanidade.
Três quartos das culturas alimentares do mundo dependem de polinização por insetos, sendo que as abelhas são as agentes mais fundamentais neste processo. As abelhas não produzem só mel, também viabilizam a produção de alimentos em geral. Em cerca de 250 mil espécies de plantas com flores, chamadas angiospermas, 90% são polinizadas por insetos, borboletas e, especialmente, por abelhas, que são tão importantes para a reprodução das plantas, tanto quanto a luz e a água.
O ser humano e demais mamíferos da Terra dependem da polinização das plantas para obter seus alimentos, fibras (como algodão) e inúmeros outros produtos. A redução dos animais polinizadores compromete grande parte da produção agrícola do mundo, além de afetar a biodiversidade e a sobrevivência de outras espécies.
As abelhas surgiram há cerca de cem milhões de anos, junto com o desenvolvimento das flores e ambas possuem intensa relação de dependência recíproca. As abelhas possuem uma relação simbiótica com as plantas e o meio ambiente, pois ao se alimentar do néctar elas não destroem suas fontes de alimentos, mas sim viabilizam a reprodução das mesmas. As abelhas encontram nas flores o pólen indispensável à sua sobrevivência e aos transportá-los de planta em planta, fecundam as flores e garantem o florescimento da vida. Quanto mais abelhas no mundo, melhor!
Porém, as abelhas estão sendo vítimas do crime de ecocídio. Segundo reportagem do jornal The Guardian, especialistas independentes da Agência Europeia de Segurança Alimentar declararam os neonicotinóides (imidacloprid, clotianidina e tiametoxam) um risco inaceitável para as abelhas, quando usados em plantações floridas. Estes estudos apontam os efeitos nocivos dos agrotóxicos (neonicotinóides) para as abelhas, incluindo perdas das rainhas.
Mas as empresas químicas condenaram os estudos e dizem a proibição dos inseticidas neonicotinóides não iria salvar uma única colmeia. Porém, nos EUA e Europa, há uma redução de até 50% no número de colmeias e este fenômeno já atinge o Brasil. O Brasil caiu da 5ª para a 10ª colocação mundial em exportação de mel nos últimos dois anos. O motivo foi o abandono das colmeias na região produtora mais importante do país, o Nordeste. Em 2012, alguns estados registraram queda de 90% na produção e o abandono de colmeias chegou a 60%.
Diversos outros estudos mostram que o uso de produtos químicos estão provocando a morte das colmeias. O fenômeno é caracterizado como Síndrome do Colapso das Abelhas (CCD, sigla em inglês para Colony Collapse Disorder) e verifica-se quando há um abandono repentino e massivo de colmeias.
Como disse Albert Einstein: "Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência. Sem abelhas não há polinização, não há reprodução da flora, sem flora não há animais, sem animais, não haverá raça humana".
*José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate