Opinião

Desmatamento continua

*Miriam Leitão

O Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon detectou um aumento impressionante do desmatamento em junho. Chegou a 184 Km² na Amazônia Legal em um mês, uma elevação de 437% em relação a junho de 2012. Outra má notícia é que o estado do Amazonas, que não costuma estar entre os maiores desmatadores, foi o segundo que mais perdeu cobertura florestal no mês.

O Imazon também monitora a degradação florestal, que é o primeiro estágio, quando os madeireiros entram para tirar as melhores madeiras e a cobertura florestal vai se degradando. Foi registrada degradação florestal em 169 Km² em junho, comparado ao mesmo mês do ano passado. É definida como desmatamento a supressão total da floresta. De toda a região da Amazônia, o Pará desmatou 42% do total, e o Amazonas, 32%. No acumulado de dez meses, o Amazonas está em quarto lugar.

O SAD é o sistema de processamento dos dados que são enviados pelos satélites. Eles são analisados em tempo real. O desmatamento no período de agosto de 2012 a junho de 2013 teve um aumento de 103%, indo a 1.838 quilômetros quadrados.

A maior parte do desmatamento (63%) ocorreu em áreas privadas. O resto ocorreu em assentamentos de reforma agrária e em unidades de conservação. Os municípios críticos continuam sendo Itaituba, no Pará, em primeiro lugar; depois, Lábrea e Apuí, no Amazonas; Colniza e Peixoto de Azevedo, em Mato Grosso; Altamira e Novo Progresso, no Pará; Novo Aripuanã, Presidente Figueiredo e Maués, no Amazonas.

Os números de junho são espantosos porque mostram que por mais que avance a consciência do Brasil de que é preciso preservar os recursos naturais da Amazônia, o desmatamento – caracterizado pelo corte raso das árvores – e a degradação florestal, o primeiro passo da destruição, permanecem crescendo. E esse é o começo da temporada. Nos próximos meses, se for mantido o mesmo ritmo, o país pode colher um resultado adverso no ano, quando os dados forem consolidados.

Esses números captados em junho pelo Imazon mostram que, tanto na comparação de dez meses quanto na de junho contra junho, houve um aumento forte. Os resultados são preliminares, mas calculados por um instituto científico que tem larga experiência técnica na análise dos dados gerados pelos satélites. As mesmas informações servem de base para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que faz o monitoramento oficial. Ao fim de um ano, o Inpe consolida e divulga os dados, mas a menos que haja uma reverão este mês e nos próximos, desta temporada de desmatamento, o país pode ver uma inversão da curva de queda da destruição da Amazônia. O Inpe registrou aumento de janeiro a maio de 28% no desmatamento.

Atente-se para o fato de que o que se tem comemorado no país é a redução da taxa de destruição anual. Isso vinha permitindo que os ambientalistas, as ONGs, os institutos científicos, e as pessoas preocupadas com o tema começassem a sonhar com o desmatamento líquido zero, ou seja, que o balanço do replantio fosse o mesmo do corte de árvores. Esse dado é um banho de água fria em quem estava apostando que o desmatamento continuasse sendo reduzido anualmente.

Uma grande parte desse desmatamento é ilegal e ocorre de uma forma de exploração totalmente irracional, com o uso do correntão. Quem já viu uma área dessas totalmente desmatada, para ser depois abandonada, não deixa de se afligir quando aparecem esses dados agregados. Olhar de perto essa destruição captada por satélites e processadas por computadores dá a sensação de que o Brasil optou pela insensatez. É uma cena que não se esquece.


*Miriam Leitão é jornalista

Fonte: O Globo