Entrevistas

Educação ambiental em Minas Gerais

Educação ambiental em Minas Gerais

Para ser um educador ambiental é preciso, além de conhecimento técnico, ter coração. A frase foi dita por Marta Silveira, especialista em gestão ambiental com foco em educação ambiental.

A legislação divide a educação ambiental em três eixos: informal, formal e não formal. A última diz respeito ao setor empresarial, conforme diretrizes da DN 214/2017. Este é ramo principal de atuação de Silveira, que coordena o projeto de educação ambiental itinerante da Amda chamado Caravana Ambiental. O projeto consiste em apresentação de peça teatral e distribuição de cartilha lúdica didática para crianças de seis a 11 anos. “Já fomos a distritos rurais com escolas paupérrimas, e a receptividade, tanto da instituição, como das comunidades, era impressionante. Perdi as contas de quantos professores já me agradeceram pela cartilha, pois assim teriam material para trabalhar com os alunos”, relatou.

Amda – Desde 2011 você coordena o projeto de educação ambiental itinerante da Amda chamado Caravana Ambiental. Conte-nos um pouco sobre o projeto.

Marta Silveira – A Caravana Ambiental já percorreu 24 municípios e mais de 150 distritos e comunidades; 320 escolas públicas; 18 escolas particulares; 82.000 participantes, 590 intervenções (palestras, teatro, cartilha, debate, fotos, avaliação).

Amda – O que é Educação Ambiental e qual sua importância?

M.S – A palavra Educar é composta pela união do prefixo EX que significa “fora“ e DUCARE, que significa “conduzir”. Então: educar é “conduzir para fora“. A palavra AMBIENTE, também de origem latina, significa “ENVOLVER“. Então Educação Ambiental é isso: conduzir para fora e envolver. Na prática você “conduz para fora” quando conduz o olhar das pessoas para seu entorno e para os impactos das suas atividades: positivas ou negativas e para o “colocar no lugar do outro“ e também para os impactos do outro sobre você. Qual a importância? Uma comunidade ambientalmente e socialmente educada pode propor e participar de políticas públicas, criar soluções econômicas locais, preservar sua cultura material e imaterial; promover o turismo sustentável; preservar o ambiente natural e recuperar áreas degradadas.

Amda – A Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9.795/99) estabelece que a educação ambiental deva ser desenvolvida “como prática integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal”. A lei também pontua que essa incorporação deve ocorrer de modo interdisciplinar. Profissionais defendem a criação de uma disciplina específica, considerando dificuldades diversas na aplicação prática interdisciplinar. Pode comentar isto?

M.S – Analisando a Base Comum Curricular/MEC, entendo que a Política Nacional de EA está sendo implementada; entretanto não de forma interdisciplinar devido à falta de capacitação dos professores para tanto. Alguns temas são considerados transversais: ética, raça, sexualidade, meio ambiente… Esses temas são tratados normalmente nas datas comemorativas. O tema meio ambiente é tratado geralmente nas disciplinas de ciências e geografia.

Amda – Pode falar um pouco das dificuldades enfrentadas pelos professores para abordar o assunto nas escolas?

M.S – Hoje as escolas públicas passam por diversas dificuldades. Não vejo dificuldade especial para tratar do tema meio ambiente, mas é preciso buscar e questionar a realidade local: eu, minha escola, minha casa, minha rua, meu bairro, minha cidade, Minas Gerais, Brasil, planeta Terra, através de atividades pedagógicas mais lúdicas e dinâmicas (feiras, experimentos, gincanas, concursos, filmes etc) e, na maioria das vezes, as escolas não têm recursos humanos, físicos e econômico para isso.

Amda – Em sua opinião, a aprovação de livros didáticos pelo MEC leva em conta a questão ambiental de acordo com sua importância?

M.S – A aprovação dos livros didáticos prioriza os conteúdos de português e matemática, modelos voltados à formação para o trabalho. Os livros (as coleções) devem estar acordados com a Base Comum Curricular e passam por licitação. As escolas públicas escolhem as coleções que melhor adequem à sua realidade. Claro que a região urbana de Belo Horizonte não vai optar por tráfico de animais ou desmatamento e sim por lixo e consumo.

Amda – Qual deveria ser o papel da Secretaria de Educação Estadual na aplicação da educação ambiental?

M.S – Meio ambiente é ciência. A Secretaria de Educação precisa incentivar, nas escolas, o conhecimento através da experiência científica, conhecimento crítico do ambiente local: feiras de ciências, caminhadas e mapeamento ecológico, projetos socioambientais, gincanas etc.