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Entrevistas

Asas para voar de norte a sul

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Asas para voar de norte a sul

O ator Max Fercondini, 23, soma dezenas de trabalhos na televisão, teatro e cinema. Sua última atuação em novelas foi como Conrado Cassini, na trama Ciranda de Pedra, em 2008. Envolvido em causas ambientais, sociais e culturais, o ator quer trilhar novos caminhos. Com sua licença para voar, Max vai embarcar no projeto “Nas Asas do Brasil”, pilotar um avião e retratar o patrimônio cultural e ambiental do país. O ator está também apresentando o ‘Globo Ecologia’, um programa sobre Educação Ambiental exibido no Canal Futura e na TV Globo. Nos primeiros episódios da nova série, Max trata do tema “Alimentos – do prato a terra”, um mapeamento do agronegócio, que pretende explicar porque o Brasil se coloca no planeta como um grande celeiro. Nesta entrevista ao Ambiente Hoje, o ator conta como começou seu interesse pelo meio ambiente e analisa a influência das questões culturais na relação do homem com a natureza.

Como ator engajado nos problemas ambientais, você foi convidado para palestrar na conferência internacional “Diálogos da Terra no Planeta Água”, em Belo Horizonte – MG. Para você, porque é importante um artista mobilizar a comunidade pela preservação da natureza?

O artista pode estimular o interesse das pessoas. O público desenvolve uma ligação com o personagem da novela e quando vê o artista participando de um evento como o “Diálogos da Terra” quer saber que evento é esse. Essa curiosidade também desperta o público para outras causas. Há algum tempo eu venho pesquisando sobre o meio ambiente e compreendo que faz parte de nosso inconsciente coletivo a necessidade de conhecer a própria cultura. Percebo também que a relação entre cultura e meio ambiente está acontecendo de uma maneira muito forte. Sou um cidadão como qualquer outro e represento o que a sociedade pensa. A notoriedade do meu trabalho, a expressão que tenho na sociedade, é uma coisa que agrego às minhas crenças, vivências e identidade.

Você planeja voar de norte a sul do Brasil com o projeto “Asas do Brasil”, para criar um documentário e uma série de tevê. Como surgiu a idéia de desvendar pontos turísticos de interesse ecológico no Brasil?

Este projeto, além do meio ambiente, tem a sociedade e a cultura como focos. Sou piloto privado de avião e quero aproveitar meu brevê para conhecer os pontos mais relevantes do cenário cultural, social e ambiental do Brasil. Sinto que o momento para realizar esse sonho é agora. Lembro de uma coisa engraçada que me aconteceu. Eu estava apresentando meu projeto para uma empresa e alguém me perguntou qual era o meu envolvimento público com o meio ambiente. Lembrei da minha infância e respondi que o mutirão que plantou as árvores no meu condomínio, quando eu tinha 11 anos de idade, foi mobilizado por mim. Agora, tenho 23, adquiri maturidade, opiniões e vontade de transmiti-las, de ouvir, dialogar e contribuir com o coletivo.

Em sua opinião, é possível conciliar desenvolvimento econômico com a preservação de nosso patrimônio cultural e ecológico?

Eu acredito na preservação ambiental do ponto de vista cultural. A gente não pode dividir desenvolvimento e preservação do meio ambiente. Também não tem como excluir a cultura, que é parte integrante nesse processo. Mas, nós temos de pensar que para o desenvolvimento social, a economia também é muito importante. Se a economia local, regional e nacional é muito importante, como incentivar agricultores e proprietários de terra na Amazônia, por exemplo, a preservar a mata? Seria através de subsídios oficiais ou de outras políticas definidas para quem preservar áreas protegidas? O que fazer é uma discussão que não me cabe decidir, mesmo porque não sou perito ou técnico nessa área. Entretanto, penso que não podemos deixar de pensar na importância da cultura popular, que existe uma crença do povo em seus mitos. Temos lendas como a do caipora, do boi tatá e do curupira, personagens folclóricos que são essencialmente protetores das florestas e dos animais. O padre José de Anchieta, em carta de 1560, relatava que a população já se conscientizava, através de seus mitos, dos malefícios que a cultura extrativista traria para o Brasil. As lendas narram histórias desses personagens espantando homens que vinham buscar madeiras e minerais de nossas florestas. Estamos nos habituando a ouvir que daqui a 20 anos não teremos mais água, que daqui a 40 anos o aquecimento global vai aquecer a terra ou que em 60 anos algumas regiões se tornarão desérticas. As pessoas esquecem que estão falando do futuro e o que é o futuro está no presente. O futuro no presente são as crianças. Por isso, acredito que vamos conseguir conciliar desenvolvimento econômico e proteção do patrimônio cultural e ecológico através da educação e da busca de nossas raízes.

A teoria da ‘Pegada Ecológica diz que cada homem é responsável pelo impacto sobre áreas que foram degradadas para atender suas necessidades de consumo. O que podemos fazer para evitar a devastação das florestas?

É muito importante para o homem ter consciência de consumo. Quem precisa comprar madeira poderia se perguntar se ela tem certificação de plantio sustentável ou se é oriunda de desmatamento da Amazônia ou da Zona da Mata Mineira. A partir do momento que temos consciência de consumo, vamos buscar outras soluções. Temos um ciclo econômico no Brasil que envolve sociedade, governo, indústria e empresas. Esse ciclo pode tornar-se sustentável se todos promoverem mudanças. A sociedade pode atuar com o aprimoramento cultural; o governo, com incentivos, não só fiscais, mas de reconhecimento e proteção às empresas sustentáveis; as indústrias podem buscar alternativas, como, por exemplo, evitar o uso de combustíveis fósseis; as empresas, então, podem repassar opções sustentáveis para o consumidor. E, é claro, se a sociedade tiver consciência de consumo vai fazer a escolha certa, vai fazer a opção pelo produto mais sustentável. Existe uma pesquisa que Matthew Simmons, um banqueiro de investimentos no setor da energia e ex-conselheiro de George Bush, fez há 10 ou 12 anos atrás. A pesquisa foi feita nas universidades dos Estados Unidos, com um publico jovem, entre 20 e 25 anos.