Pós anos 90: diálogo, conflitos, mudanças
A década de 90 marcou outra importante mudança na estratégia da Amda, até então mais marcada pelo conflito. Nessa década, o diálogo com empreendedores interessados em mudanças ambientais passou a ser outra ferramenta da entidade para consecução de seus objetivos. Sem abandonar sua capacidade de luta e embate, a Amda começou a mostrar sua capacidade de negociação. Naquela época, a Lista Suja já era uma pedra no sapato de muitas empresas que, sem alternativa, foram obrigadas a “abrir a guarda”.
Era o ano de 1993. Na Lista Suja desde 1984, a Usiminas figurava na pré-lista também daquele ano. Como parte do processo de sua construção, a Amda convidou todos os segmentos envolvidos com o assunto em Ipatinga para uma reunião histórica que gerou acordo entre a empresa, prefeitura e órgãos ambientais. Dessa forma, a Usiminas saiu da Lista Suja.
O mesmo tipo de entendimento ocorreu em relação à Belgo-Mineira, que também figurou por vários anos, entre 1984 e 1989, além de 1991, na Lista Suja. Para não entrar na relação dos “sujões” de 1992, a empresa levou para a reunião na sede da Amda o vice-presidente do grupo Belgo-Mineira, José Polansk, e o então prefeito de João Monlevade, que serviu para afiançar a disposição da empresa em realmente cumprir os compromissos assumidos na área ambiental e não mais retornou à lista.
A Refinaria Gabriel Passos (Regap), da Petrobrás, manteve com a Amda um contencioso de quase dez anos. Por degradar o ar na região de Betim, a refinaria figurou na Lista Suja durante oito anos. Ao longo de praticamente toda a década de 80, a empresa manteve com a entidade uma relação de extrema prepotência, que somente foi modificada com a posse de Caio Múcio como superintendente da Regap. Foi ele quem abriu as portas para o diálogo com a Amda, participando pessoalmente de reuniões na sede da entidade.
O conflito com o parque siderúrgico mineiro, especialmente as indústrias de ferro gusa, devido ao consumo de carvão vegetal fabricado com Mata Atlântica e Cerrado, foi o mais longo da história da Amda. Inescrupulosas, acostumadas ao lucro fácil e escudadas na tolerância do poder público, durante décadas essas empresas disputaram com a agropecuária a responsabilidade pelo desmatamento em Minas e diversos outros Estados. E quando começaram a ser fiscalizadas, desenvolveram um sofisticado sistema para burlar a ação da Polícia Militar Ambiental e do Instituto Estadual de Florestas (IEF).
Em 2013 foi promulgado o novo Código Florestal do Estado. De forma geral, a lei foi um grande retrocesso e sua aprovação no governo Anastasia foi marcada por autoritarismo e exclusão da sociedade. Mas uma vitória foi conseguida pela Amda, com apoio de técnicos dos órgãos ambientais: a partir de 2018 as empresas que consomem até 4.000 m³ de carvão, só podem consumir este insumo produzido com plantios florestais. A proibição de consumo de carvão de origem nativa independe da origem geográfica. O desafio é seu cumprimento.
Não é possível citar todas as causas. A Amda teve de “comprar briga” com a Prefeitura de Timóteo devido à expansão de loteamentos na zona de amortecimento do Parque Estadual do Rio Doce; contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) pelo não licenciamento ambiental dos projetos de assentamentos de reforma agrária; contra o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) pelo não licenciamento de projetos de construção e reforma de rodovias.
A história da entidade continuou sendo marcada por inúmeras causas e ainda muitos conflitos, como a transposição do rio São Francisco, defesa da Mata Seca restante no Norte de Minas, da área cárstica da Lagoa Santa – maior complexo de cavernas do mundo que, além de abrigar tesouros arqueológicos e paleontológicos, detém espécies ameaçadas de extinção e expressivos remanescentes florestais -, gravemente ameaçada pela expansão urbana. Em 2012 sua atuação foi marcada pela luta que tomou conta do país contra o texto do Código Florestal apresentado pelos ruralistas, tendo como líder o então deputado Aldo Rebelo, do PCdoB.
Entre as causas que a entidade continua enfrentando estão a luta contra tráfico de animais silvestres, desmatamento e incêndios. A luta em defesa da fauna tem destaque para DNIT e DEER, pois as rodovias tornaram-se matadouros dea fauna silvestre. Também permanece a luta pela implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e respectivo Projeto de Recuperação Ambiental (PRA) previstos no Código Florestal; e contra leis ou projetos de lei estaduais e nacionais que representam retrocesso na legislação ambiental, como os que legalizam a caça a animais silvestres, autorizam barramento em Veredas e excluem a sociedade civil da gestão dos recursos naturais através do Copam.