Em um momento em que o Brasil vivia sob o regime militar, com fortes restrições à liberdade individual, um grupo de estudantes de ciências econômicas e biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) começou a se reunir para discutir um tema que ainda não fazia parte dos campos de interesse da maioria da sociedade: meio ambiente. Dele nasceu a Amda – Associação Mineira de Defesa do Ambiente.
Os fundadores da Amda, em sua maioria egressos do movimento estudantil contra a ditadura militar, foram visionários: para eles, a defesa do meio ambiente não podia pautar-se no “verde pelo verde”, sob pena de fracasso. Teria de considerar fatores políticos, econômicos, culturais e sociais e ser pacifista por princípio. A visão hoje é consagrada, mas naquela época foi algo inédito, criticado por teóricos da luta política.
O confronto marcou a primeira fase de atuação da Amda, principalmente com grandes empresas poluidoras. Mas seus militantes logo perceberam que o Estado, enquanto responsável pelo bem estar público, era ainda mais responsável que elas, e que outras atividades econômicas e de infraestrutura – como agropecuária, rodovias, desmatamento para fabricação de carvão que alimentava o parque siderúrgico do Estado – eram também grandes vilãs.
Para muitas pessoas, os militantes da Amda eram vistos como jovens sonhadores e românticos. Mas pelas empresas e poder público, como subversivos e inimigos do progresso. A sede da Amda chegou a ser visitada pela Polícia Federal, que buscava panfletos contra o governo e durante anos suas ações foram acompanhadas de perto pelo Estado.
O conflito e denúncia nunca foram abandonados como estratégia, mas diálogo, pró atividade, parcerias e reconhecimento de que todos os setores abrigavam pessoas que buscavam mudanças, passaram a marcar sua atuação.
A história da Amda mistura-se, desde a década de 70, com a história do movimento ambientalista em Minas e vice-versa. Até então, as poucas manifestações da sociedade civil na área ambiental pautavam-se por importantes lutas em defesa de ambientes naturais, como a Mata do Jambreiro, hoje Reserva Particular do Patrimônio Natural (RRPN) da Vale.
Outro fator que marcava a luta ambiental no país era contra a poluição atmosférica causada por indústrias. O gatilho que disparou inúmeras reações no país não foi a defesa do meio ambiente natural, e sim danos e incômodos a pessoas. A luta em defesa da fauna, flora, água e solo surgiu e se fortaleceu bem mais tarde. Mas a destruição da vida longe das fronteiras urbanas ainda não mobiliza a sociedade.
A participação no Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam/MG) foi fundamental para ampliação da percepção da Amda quanto às causas da degradação ambiental e dilapidação dos recursos naturais. Setor privado, poder público e a sociedade de forma geral, guiados por uma cultura de extrativismo, consumismo e desperdício, determinaram mudanças estratégicas na atuação da entidade.
Dificuldades econômicas e estruturais sempre marcaram as organizações da sociedade civil, e para a Amda não foi diferente. Não foi sempre, por exemplo, que a entidade teve uma sede onde seus militantes pudessem se reunir. O jardim da Igreja da Boa Viagem abrigou diversas reuniões.
A Amda protagonizou diversos momentos cruciais para a mudança de rumo da história de Minas diante da preservação do meio ambiente, fazendo denúncias e reivindicações e atuando na trajetória da política ambiental, promovendo manifestações, debates, encontros e reuniões que constituíram e ainda constituem nossa luta diária. Citar todos os trabalhos é impossível, mas alguns pontos merecem ser relembrados.