Anos 80 – o grande embate

Os anos 70 foram como uma preparação para a guerra. Os conflitos ocorridos até então serviram como ensaio para a grande batalha que estava por vir. O cenário já estava armado há algum tempo. Por seu discurso combativo, a Amda ganhou espaço e, paulatinamente, transformou-se em forte referência em Minas Gerais junto ao poder público, sociedade, imprensa e movimento ambientalista.

Sua primeira grande campanha foi contra a destruição da Amazônia. Na época, fim da década de 70, o governo federal tentava aprovar no Congresso um projeto de lei que estabelecia contratos de risco para a exploração de madeira na região. Baseada no slogan “assim será nossa Amazônia se você não entrar na luta”, a campanha ganhou as ruas de Belo Horizonte e de várias outras capitais. O projeto foi engavetado pelo governo.

Praticamente ao mesmo tempo, a Amda lançou-se na campanha contra a construção do Aeroporto Internacional de Confins devido aos impactos do empreendimento na região cárstica de Lagoa Santa. Ao lado do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) e de outras entidades, a iniciativa defendeu investimentos em transporte coletivo. Mas o aeroporto foi construído sem mesmo ter sido analisado pelo Copam.

Outro grande e longo embate da Amda foi a luta contra a poluição atmosférica no Vale do Aço, onde toda manhã o vento nordeste empurrava em direção a Timóteo parte das 61 toneladas de material particulado e 32 toneladas de dióxido de enxofre que eram produzidas diariamente pela Usiminas, em Ipatinga, e à noite, o vento sudoeste fazia o caminho inverso. Soprava de Timóteo em direção a Ipatinga as 46 toneladas de material particulado e as 53 de monóxido de carbono provenientes da Acesita. Em João Monlevade, a Belgo Mineira coloria o céu com a fumaça marrom de suas chaminés; e na Cidade Industrial de Belo Horizonte a situação não era muito diferente. A Itaú parou de poluir, mas outras empresas continuavam a emitir poluição atmosférica.

Nome sujo na praça

Com base na Lista Suja de empresas que lesavam consumidores nos EUA, publicadas pelo jornalista Ralph Nader, a Amda lançou, em 1982, aquele que seria ao longo das duas décadas seguintes seu principal instrumento de luta: a Lista Suja, que rapidamente ganhou força surpreendente junto à mídia e à sociedade de forma geral. Em 2006, a entidade optou por não mais publicá-la devido a diversos fatores, entre eles, ação judicial ganha por uma empresa incluída na mesma.

A Lista Suja, mais que ferramenta de denúncia, tornou-se importante instrumento de adequação e educação ambiental, pois além da pressão política, criava oportunidade para contato direto entre a entidade e as empresas, já que seu processo de construção previa abertura de diálogo prévio com aqueles que se interessavam.

No final da década de 80, a sede da Amda na rua Viçosa, bairro São Pedro, foi palco de reuniões históricas entre representantes de empresas que estavam na Lista, ambientalistas, técnicos dos órgãos estaduais de meio ambiente e sindicato de trabalhadores.

Aprendizado

Os anos 80 trouxeram grandes mudanças na área ambiental e na estratégia da entidade. Até então focada em empreendimentos industriais e minerários, a Amda voltou seus olhos para um personagem à época ainda “bastante esquecido” no cenário de responsabilidades pelo assunto: o poder público, enquanto empreendedor e responsável pela regulamentação e controle dos empreendimentos privados. Ao mesmo tempo, a entidade alertava para o fato de atividades agropecuárias, rodovias e expansão urbana serem grandes responsáveis pela degradação ambiental.

O Projeto Jaíba, megaprojeto de irrigação localizado no Norte de Minas, tornou-se uma das lutas mais emblemáticas da entidade. Iniciado pela Codevasf, em parceria com o governo de Minas, o projeto estava sendo implantado sem realização de estudos ambientais. A Amda conseguiu liminar judicial que obrigou a empresa a buscar licença junto ao Copam, concedida em 1989. A luta prolongou-se por quase 20 anos. Os danos ambientais, principalmente a derrubada da Mata Seca na área do projeto e morte de milhares de animais, foram gigantescos, mas a entidade teve papel primordial na criação do Sistema de Áreas Protegidas na região, que, apesar de ainda não implantado, continua garantindo alguma proteção dos ambientes naturais restantes.

Outros embates marcaram a mudança de foco da entidade, como as ações judiciais que impediram leilão de fazendas onde estão instaladas as estações ecológicas de Arcos e Lambari pela Epamig; ação conjunta com o Ministério Público contra desmatamento da fazenda Veredão no Norte de Minas, de propriedade do então governador Newton Cardoso.