Opinião

Genocídio ambiental

*Marcello Averbug

Assim como na Alemanha tornou-se ilegal negar o Holocausto perpetrado pelos nazistas, também em todos os países deveriam ser processados os ocupantes de cargos públicos que negam a agressão humana à ecologia. Ao se recusarem a concretizar medidas protetoras do meio ambiente, políticos e executivos de órgãos estatais mereceriam ser penalizados por cometerem crime contra a humanidade.

E o mais alarmante é que parte da população mundial recebe notícias sobre aquecimento global, envenenamento de mares, rios e baías, buraco na camada de ozônio etc. e, meio descrente, reage como se tomasse conhecimento de fatos que não lhe dizem respeito. Existe também o bloco dos conformistas que, embora reconheçam, encaram como inevitáveis a degradação ambiental e a decadência da qualidade existencial dos terráqueos. Essas duas posturas enfraquecem o movimento popular em prol da saúde deste planeta, no qual a presente e as futuras gerações estão fadadas a viver e, portanto, precisa ser resguardado.

Por incrível que pareça, desde janeiro de 2017 vem ocorrendo um dramático retrocesso político no tema ecológico, devido à eleição do atual presidente dos Estados Unidos. Além de retirar o país do Tratado de Paris, Donald Trump empenha-se em desmontar o aparato regulatório destinado a controlar as fontes poluidoras, criado principalmente pelo presidente Barak Obama. E, em ato condizente com seu estilo, nomeou como diretor da EPA (Agência de Proteção Ambiental) um notório detrator da causa ambiental.

É lamentável constatar como demais países integrantes do Acordo de Paris e a ONU reagiram de forma débil ante o ato hostil de Trump. Aos danos derivados da retirada americana deveria ter correspondido incisivo aumento na amplitude e na velocidade de implementação das metas almejadas pelo Acordo. Talvez uma das causas da mencionada débil reação seja a impunidade desfrutada pelos governantes que negligenciam a defesa ecológica.

O Papa Francisco costuma emitir excelentes mensagens alertando sobre os perigos provenientes da depredação de que a mãe terra é alvo. Porém, a capilaridade e o poder institucional da Igreja Católica poderiam ser mobilizados bastante mais intensamente. O impacto da adesão ostensiva e dinâmica do Vaticano à causa conservacionista multiplicaria sua capacidade de conquistar resultados, além de inspirar outras instituições religiosas a se engajarem na batalha.

Na década de 70, quando chefiei o Departamento de Planejamento do BNDES, propus a inclusão no Plano de Ação do Banco de um programa de financiamento à recuperação de áreas atingidas pela poluição e aos investimentos destinados a reduzir ou eliminar efeitos poluentes gerados por empresas. Fui derrotado sob o argumento de que a preocupação ambiental era incompatível com o desenvolvimento econômico. Pois é, naquela época o conceito de desenvolvimento sustentável ainda engatinhava…


*Marcello Averbug é economista

Fonte: O Globo