Mais um Dia da Terra sem nada que comemorar
*Juacy da Silva
A Década da Restauração dos Ecossistemas Degradados (2021 – 2030) Criará milhões de novos empregos até 2030, gerará retornos de mais de 7 trilhões de dólares todos os anos e ajudará a eliminar a pobreza e a fome.” António Guterres, Secretário-Geral da ONU, por ocasião do lançamento da Década da Restauração dos Ecossistemas Degradados, em 2019.
Há 53 anos , no dia 22 de Abril de 1970, antes mesmo da 1ª. Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento promovido pela ONU em Estocolmo, o Senador Gaylord Nelson que representava o Estado de Wisconsin, do Partido Democrata, um ambientalista convicto, ante o desastre do derramamento de óleo na região de Santa Barbara, na Califórnia em 1969, mobilizou os Estados Unidos, com o objetivo de despertar a consciência da população de que era (como continua sendo) necessário um maior e melhor cuidado com o meio ambiente, tanto naquele país quanto no resto do mundo, promoveu uma grande mobilização naquele país.
No dia 22 de Abril de 1969, mais de 1,5 milhão de pessoas marcharam e protestaram em inúmeras cidades americanas, contra aquele desastre ambiental e, assim, surgiu o DIA DA TERRA, que só em 2009 foi reconhecido como uma data a fazer parte do Calendário Ambiental da ONU.
Entre 1970 e 2009, o despertar da CONSCIÊNCIA AMBIENTAL, ou o que o Papa Francisco denominada de CONVERSÃO ECOLÓGICA, na Encíclica Laudato Si alguns anos depois (em 2015), diversos eventos internacionais ocorreram como a referida 1ª. Conferência da ONU sobre o Desenvolvimento e o Meio Ambiente; a ECO-92, no Rio de Janeiro e outros mais.
Diante deste despertar mundial a ONU, em sua Assembleia Geral de 2009, aprovou uma Resolução instituindo o DIA INTERNACIONAL DA MÃE TERRA, a ser celebrado anualmente em 22 de Abril em todos os países-membros, inclusive no Brasil, com o objetivo de despertar a consciência da população em geral e também, principalmente, engajar instituições governamentais, empresariais, entidades privadas representativas da sociedade civil, para refletirem sobre os riscos e consequências do processo acelerado de degradação de todos os biomas e ecossistemas, que continua a todo vapor, como se diz.
Além deste despertar da consciência ambiental, a ONU e suas agências especializadas buscam, na verdade, estimular as instituições públicas e empresariais, principalmente, a definirem políticas públicas e empresariais voltadas a um melhor cuidado com o meio ambiente, como forma de salvar o planeta terra de uma destruição que colocará, como ja está colocando, todas as formas de vida, inclusive da vida humana, em sérios riscos de sobrevivência.
Desde que ocorreu o primeiro DIA DA TERRA, em 1970, dezenas de milhares de espécies vegetais e animais, flora e flora, inclusive grupos humanos (povos primitivos) já foram extintos, ante a conivência, omissão e passividade de governantes, empresários e a maior parte da população, LAMENTAVELMENTE.
Nas últimas celebrações do DIA DA TERRA, mais de 1,5 bilhão de pessoas tem participado anualmente de algum tipo de ação como forma de alertar a opinião pública em todos os 193 países e territórios que fazem parte da ONU.
Todavia, parece que essas celebrações por mais importantes e impactantes que possam ser e tem sido, acabam caindo no esquecimento ao longo dos demais 364 dias de cada ano.
Os países firmam acordos, comprometem-se a definirem políticas públicas, aportarem recursos orçamentários em todos os níveis de governo (âmbitos nacional, regional, estadual, local, municipal) voltados para estratégias, planos, programas e ações voltadas ao meio ambiente; os empresários se comprometem em fóruns internacionais a reduzirem a poluição, a implementarem processos que deixem de usar energia suja em suas atividades econômicas, estabelecem metas a serem atingidas dentro de alguns anos ou décadas, a população fica alerta quanto às necessidade de que cada pessoa também é responsável pela destruição do planeta com seus hábitos consumistas, com um desperdício enorme de todos os bens, inclusive de alimentos, água, energia, materiais de construção e outros mais.
Todas as pessoas e instituições estão mais do que conscientes e conhecem a realidade devastadora da degradação ambiental, através de dados estatísticos detalhados, informações bem elaboradas, de estudos, pesquisas, alertas de milhares de cientistas quanto ao aquecimento global que está provocando mudanças climáticas, alterando o regime de chuva, todos sabemos que o desmatamento das florestas, as queimadas, a erosão, a destruição da biodiversidade.
A poluição urbana e industrial estão degradando o ar, o solo, os córregos, os rios e os oceanos, que a chamada “civilização dos plásticos”, está acabando com o planeta, que os impactos dos desastres naturais, que em sua grande maioria são causados pela ação humana totalmente irracional e irresponsável, acabam afetando de forma terrível a população pobre, que a desertificação está em curso, que o uso e ocupação do solo, sem os cuidados necessários já provocou a degradação de mais de dois bilhões de hectares de terras férteis no mundo, e que o Brasil é um dos países que mais tem áreas degradadas (mais de 140 milhões de hectares, incluindo mais de 69 milhões de pastagens degradadas, ou seja, o dobro da área agrícola plantada nesta safra de 2022/2023, que está sendo considerada mais um recorde com seus pouco mais de 77 milhões de hectares).
Enfim, atualmente existe um vasto conhecimento de como se origina a degradação ambiental no planeta e em todos os países e quais as consequências econômicas, sociais, culturais, demográficas e humanas deste processo avassalador de destruição do planeta.
Todavia, pouco tem sido feito e muito está por fazer, antes que seja tarde demais.
A cada ano para orientar as celebrações do DIA DA TERRA tanto a ONU quanto a Organização Internacional responsável pela articulação dessas celebrações e ações, definem um tema para servir de base para este alerta global.
Em 2023 o tema escolhido foi INVESTIR NO PLANETA, ou seja, precisamos, organizações governamentais e não governamentais, inclusive e ou principalmente empresariais, que na verdade são os grandes destruidores do planeta e também a população em geral, repito, precisamos dar uma chance de sobrevivência à vida na terra.
Para tanto precisamos , como diz o Papa Francisco, reformar a economia, ou seja, não podemos continuar com modelos e sistemas econômicos que em sua busca por lucro fácil e imediato, não respeitem os limites da natureza, os limites do planeta, que não respeitem o meio ambiente e também o direito dos trabalhadores, o direito dos consumidores e o direito das atuais e, principalmente, das futuras gerações a um meio ambiente limpo, saudável e sustentável. Esta proposta está contida na “Economia de Francisco e Clara”, vale a pena conhecer.
Precisamos substituir os atuais paradigmas das relações da humanidade com a natureza, principalmente no que concerne `a economia, `a produção de bens e consumo, por um outro paradigma que é a ecologia integral, uma maior racionalidade dos processos de produção e de consumo, mais conscientes, mais responsáveis, mais saudáveis e mais sustentáveis.
A agroecologia, a economia circular, a economia solidária, a economia criativa, a economia verdade, o cooperativismo, a substituição das matrizes energética e elétrica que atualmente são baseadas em fontes sujas de energia, que são os combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), que precisam ser substituídas de forma urgente e muito ampla pelo uso de fontes de energia limpa e renovável, principalmente a energia solar, a energia eólica, a energia das marés, pelo hidrogênio verde, pela bioenergia e outras fontes alternativas limpas que serão descobertas.
Desde que haja investimentos suficientes em educação, ciência e tecnologia, diferente do que ocorre no momento, quando, com exceções, os países, inclusive o Brasil, continuam negligenciando esses setores estratégicos e vitais para o futuro do planeta e dos países.
Precisamos transformar radicalmente nossos sistemas de transportes e logística, de transporte individual poluidor para transporte coletivo, para veículos elétricos; precisamos substituir o transporte de cargas do rodoviarismo pelo transporte ferroviário moderno, mais eficiente movido por energia limpa.
Enfim, precisamos de uma verdadeira REVOLUÇÃO AMBIENTA/ ECOLÓGICA. Assim, talvez, dentro de algumas décadas possamos celebrar o DIA DA TERRA com conquistas verdadeiras e não apenas com discursos e belas intenções em relação a um futuro que poderá ser muito mais catastrófico do que de resultados animadores.
*Juacy da Silva é professor universitário aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologista, ambientalista e Articulador da PEI – Pastoral da Ecologia Integral.