A Terra perde dois terços dos animais selvagens em 50 anos
*José Eustáquio Diniz Alves
O Antropoceno (Era da dominação humana sobre o Planeta) tem sido péssimo para a sobrevivência das espécies não humanas e para os ecossistemas. Quanto mais crescem as atividades antrópicas mais diminuem as áreas selvagens e a biodiversidade.
O relatório Planeta Vivo 2016, da World Wild Foundation (WWF) mostra que o Índice Global Planeta Vivo apresentou uma queda de 58% na população de animais selvagens no mundo entre 1970 e 2012. Até 2020, a perda pode alcançar a impressionante cifra de dois terços. Ou seja, 2 em cada 3 animais serão extintos num prazo de 50 anos.
As espécies que vivem em lagos, rios e pântanos foram as que mais sofreram reduções e que continuarão sofrendo até 2020. Segundo o relatório, as principais causas desse declínio são as atividades antrópicas, como a destruição de habitats, o tráfico de animais selvagens, a poluição e as mudanças climáticas.
A pesquisa pede mudanças imediatas na maneira como exploramos as fontes de energia e alimento do planeta, proteção da biodiversidade e apoio a modelos de desenvolvimento sustentável.
Desde 1970, relatório estudou 3,7 mil espécies de aves, peixes, mamíferos, anfíbios e répteis – o que representa 6% do número total de vertebrados existentes no mundo. No estudo anterior, publicado em 2014, havia uma estimativa de que a população de animais selvagens tinha diminuído em 50% em 40 anos. Agora, a estimativa foi 58%, devendo chegar a 66% em 2020.
O homo sapiens utilizou o cérebro para construir uma avançada civilização planetária, mas tem utilizado a sua inteligência de maneira instrumental e egoísta. O impacto humano já ultrapassou a capacidade de regeneração de todos os continentes. Não há mais fronteiras para novas migrações e para a ampliação das atividades antrópicas. O mundo está em uma situação de déficit ambiental. E o desequilíbrio entre a Pegada Ecológica e a Biocapacidade cresce a cada dia. O tempo passa e o dia da Sobrecarga acontece cada vez mais cedo.
O gráfico abaixo mostra que o processo de extinção de espécies se acelerou com o aumento da presença humana na Terra. A população mundial estava em torno de 2,5 bilhões de habitantes em 1950 e passou para 7,5 bilhões em 2017. Um aumento de 3 vezes em menos de 70 anos. No mesmo período a perda de biodiversidade foi catastrófica. A correlação entre o progresso humano e o regresso da biodiversidade é enorme. Como escrevi em outro artigo: %u201Cé impossível uma espécie ser feliz sozinha%u201D.
Estudo publicado na revista Science, em julho 2016, mostra que a dimensão da perda de biodiversidade no mundo todo ameaça o funcionamento dos ecossistemas da Terra e inclusive a sobrevivência dos seres humanos. Em 58% da superfície terrestre, onde vive 71% da população mundial, %u201Co nível de perda de biodiversidade é substancial o suficiente para questionar a capacidade dos ecossistemas de suportar as sociedades humanas%u201D.
O relatório Planeta Vivo 2016 reforça a tese do holocausto biológico. Parece que o ser humano está em guerra contra as demais espécies do Planeta. Mas o especismo e o ecocídio poderão ser também o início do suicídio da espécie dominante do Antropoceno.
Um passo institucional importante ocorreu em março de 2017, quando o Parlamento da Nova Zelândia que aprovou uma lei que afirma que o rio Whanganui é %u201Cum todo indivisível e vivo%u201D, tornando-se o primeiro rio do mundo a receber o mesmo status legal de um ser humano. Logo em seguida, o Tribunal Supremo do Estado de Uttarakhand, nos Himalaias, conferiu aos rios Ganges e Yamuna, no norte da Índia, o estatuto de %u201Centidade humana viva%u201D.
O manifesto do Dia Mundial pelo Fim do Especismo (DMFE) e contra a perda de biodiversidade diz: %u201CNossa sociedade deve evoluir para incluir os animais no nosso círculo de consideração moral%u201D. O holocausto biológico é imoral.
*José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE
Fonte: EcoDebate