Opinião

A derrota do verde e sua necessária reação

*Carlos Augusto de Medeiros Filho

O crescimento da cidade engole progressivamente os espaços naturais, os campos, o verde. Em seu lugar vai se instalando um mundo de aço, tráfego e cimento. Uma coleção de fotos de uma cidade, organizada em ordem cronológica, permite uma navegação didática sobre essa vitória da urbanização maciça e, muitas vezes, desordenada.

A maioria da população reconhece de algum modo à importância das áreas verdes, mas assiste com certa passividade a diminuição desses sítios e a desnaturalização do seu ambiente original.

A importância do verde no ambiente urbano é inquestionável. Albuquerque (2011), por exemplo, cita que a presença de elementos vegetativos urbanos melhora a qualidade de vida do cidadão, uma vez que contribui para diminuir a incidência de ilhas de calor, amenizar inundações e problemas respiratórios.

Santos (2015) explica que quanto mais áreas verdes florestadas, melhor serão cumpridas suas atribuições ambientais de regulação climática, redução da poluição atmosférica, retenção das águas de chuva, recarga de aquíferos, proteção de encostas contra a erosão e deslizamentos, proteção de margens e mananciais, abrigo e alimentação da fauna urbana, lazer, embelezamento da paisagem urbana e aproximação física e espiritual dos cidadãos com a Natureza. Santos (2015) enfatiza, ainda, que não bastam os bosques remanescentes, é preciso cria-los onde a cidade o decidir. Desse ponto de vista, poder-se-ia falar em uma manutenção mínima de áreas florestadas no espaço urbano, não havendo limite máximo para atributo tão benéfico.

Braga (2003) registra que o processo de urbanização e as alterações decorrentes do uso do solo, como a retirada da vegetação (que desprotege os corpos d%u2019água e diminui a evapotranspiração e a infiltração da água) e a impermeabilização do solo (que impede a infiltração das águas pluviais), causam um dos impactos humanos mais significativos no ciclo hidrológico, principalmente sobre os processos de infiltração, armazenagem nos corpos d’água e fluxo fluvial.

Considerando que a caracterização da variação espacial da geoquímica do solo urbano, especialmente dos teores de metais pesados, é essencial para uma melhor compreensão das fontes de poluição e dos riscos potenciais; Dao et al. (2010) efetuaram uma coleta de 294 amostras de solo superficiais em um campo de esportes posicionado na margem de estradas, com intenso tráfego, em Galway, Irlanda. As amostras foram analisadas pelo ICP-OES para 23 elementos químicos.

Nessa pesquisa, Dao et al. (2010) verificaram que os componentes químicos nos solos do terreno desportivo apresentavam amplas gamas e características de distribuição, indicando a complexidade da área de estudo. Foram observadas fortes variações espaciais para Cu, Pb e Zn na área de estudo e valores relativamente altos para Cu, Pb e Zn foram distribuídos ao longo da estrada sul e na parte superior-média da área de estudo, o que indicou a influência do tráfego na produção da poluição.

Um aspecto muito interessante do trabalho de Dao et al. (2010) é que na parte leste do terreno, a poluição do trânsito foi atenuada em decorrência de um cinturão de arbustos de cerca de 15 m de largura, uma espécie de cerca viva, e que se constituiu em barreira eficaz contra a contaminação de metais tóxicos. Esse caso, então, comprova que o verde pode ser também um amenizador da contaminação química de metais tóxicos.

É fundamental que a população e os gestores e dirigentes urbanos promovam a reação das áreas verdes diante do domínio da impermeabilização. A cidade deve procurar manter os resquícios de matas originais e tem o imperativo dever de criar novos sítios de florestas e, assim, reduzir o, normalmente, enorme déficit de áreas verdes.

*Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 30 anos em Pesquisa Mineral.

Fonte: EcoDebate