Energia solar e eólica mais barata do que os combustíveis fósseis
*José Eustáquio Diniz Alves
A revolução da matriz energética rumo às energias renováveis ganhou um grande impulso em 2016. O preço da energia solar, pela primeira vez, ficou igual ou mais barato do que os combustíveis fósseis.
Em documento publicado em dezembro, o Fórum Econômico Mundial (WEF) mostrou que em muitas partes do mundo, o preço das tecnologias renováveis, particularmente a solar (a eólica on shore já estava mais barata), caiu para níveis sem precedentes. Enquanto o preço global para o carvão e o gás natural é de cerca de US$ 100 por megawatt-hora, o preço da energia solar despencou de US$ 600 uma década atrás para US $ 300 apenas cinco anos depois e agora está perto ou abaixo de US$ 100. Para os aerogeradores eólicos baseados em terra, o preço é de cerca de US$ 50.
De acordo com o WEF, mais de 30 países já alcançaram paridade na rede, mesmo sem subsídios. "Paridade de rede" é o ponto em que uma fonte de energia alternativa, digamos solar, pode gerar energia em um custo nivelado igual ou mesmo menor que o preço do poder da grade tradicional. Isto quer dizer que o crescimento das energias renováveis não depende de uma vantagem de subsídio. Ao contrário, o consumo de combustíveis fósseis recebeu US$ 493 bilhões em subsídios em 2014, mais de quatro vezes o valor dos subsídios às energias renováveis.
O Sol irradia durante 365 dias o equivalente a 10 mil vezes a energia consumida anualmente pela população mundial. Assim, o nosso astro maior pode ser a grande fonte de energia renovável do planeta, tornando-se uma fonte energética que seja abundante, permanente, relativamente limpa e ecológica. O que faltava para o deslanche da energia solar era exatamente o custo de produção. O gráfico abaixo mostra que a capacidade instalada global de energia fotovoltaica cresceu mais de 10 vezes na última década e atingiu 50,6 GW em 2015.
Estimativas para 2016 mostram que a capacidade instalada cresceu 73 GW, sob a liderança da China, seguida pelos Estados Unidos, Japão, Índia e Reino Unido. O Brasil ficou em vigésimo lugar, perdendo para países muito menores como Chile, África do Sul, Taiwan e Argélia. A Costa Rica usou 98,9% de energia renovável em 2016 e funcionou inteiramente na base da energia renovável por mais de 250 dias no ano passado, fato anunciado pelo operador de energia. A Costa Rica pode se tornar o primeiro país carbono-neutro do mundo.
Infelizmente, os últimos governos brasileiros resolveram apostar no pré-sal, como se fosse o "passaporte para o futuro" do Brasil. Acontece que os combustíveis fósseis são uma fonte de energia ultrapassada e altamente poluente. A Petrobras deveria mudar o nome para Energibras e investir pesadamente em energias renováveis. Se os governos brasileiros tivessem utilizado as enormes "jazidas" de sol e vento do país, aí sim teríamos um "passaporte para o futuro", pois as energias renováveis representam a alternativa para o terceiro milênio. O avanço da energia solar e eólica pode evitar também crimes ambientais como a hidrelétrica de Belo Monte e outras barragens que impedem o livre fluxo dos rios e da vida aquática. Evidentemente, há aumento da produção de energia solar e eólica no Brasil. Mas o avanço é lento em relação ao resto do mundo e a democratização dos sistemas descentralizados é pequena.
Empreendedores, como Ellon Musk, apostam na produção de carros elétricos, autônomos e compartilhados e na integração entre os veículos elétricos e a produção doméstica de energia fotovoltaica, via telhados solares e baterias solares. Todo o sistema produtivo nacional pode ser afetado, positivamente, pela nova matriz energética. Especialmente se for feita de forma descentralizada, democrática, ambientalmente sustentável e fortalecendo o desenvolvimento local.
A Administração Nacional de Energia (NEA) da China, em documento que estabelece seu plano para desenvolver o setor de energia da nação durante o período de cinco anos de 2016 a 2020, planeja investir US$ 361 bilhões em geração de energia renovável até 2020, enquanto tenta mudar rapidamente da dependência do carvão sujo para combustíveis mais limpos. Os altos níveis de poluição atmosférica e as doenças respiratórias exigem a mudança energética.
Até 2025, a energia solar pode ficar mais barata do que o carvão, na média global, de acordo com a Bloomberg New Energy Finance. Desde 2009, os preços da energia solar caíram 62%. Isso ajuda a reduzir os prêmios de risco em empréstimos bancários e empurrou a capacidade de produção para níveis recorde.
Tudo indica que o mundo está passando por uma mudança em sua matriz energética. O predomínio do petróleo está ficando para trás e as energias renováveis estão assumindo a liderança. Isto é uma boa notícia para o clima, pois as energias renováveis emitem menor proporção de gases de efeito estufa. Resta saber se a velocidade desta mudança será suficiente para evitar os efeitos perversos do "pico do petróleo" e será suficiente para conter o aquecimento global e os impactos das mudanças climáticas.
Como alertou o ambientalista Ted Trainer (2008), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo. Ou como disse Mahatma Gandhi: "Há recursos suficientes no mundo para as necessidades do ser humano, mas não para a sua ambição".
O sol e o vento são recursos naturais abundantes e renováveis, mas não podem fazer milagres e nem evitar a continuidade do metabolismo entrópico, como ensina a escola da economia ecológica. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Nesse sentido, Trainer prega um mundo mais frugal, com decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base nos princípios da Simplicidade Voluntária. ENERGIAS RENOVÁVEIS SIM, CONSUMICÍDIO NÃO!
*José Eustáquio Diniz Alves é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
Fonte: EcoDebate