Opinião

Consumo consciente é sustentável?

*Dalce Ricas

Conforme consta no site do Ministério do Meio Ambiente, consumo consciente "é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária do cidadão para garantir a sustentabilidade da vida no planeta". Já o Instituto Akatu define que "consumir de forma consciente é levar em consideração os impactos ambientais e sociais da produção, uso e descarte de produtos e serviços".

Pode-se deduzir que ambos pressupõem conhecimento do ciclo de vida de produtos e serviços por parte dos cidadãos, condição prévia para que evitem supérfluos e geração de resíduos desnecessários. Mas, consumo consciente não é responsabilidade somente dos consumidores finais. Instituições públicas e privadas têm responsabilidade talvez maior do que a deles. O Brasil ainda está engatinhando nesta área. Em Minas, exemplo conhecido que podemos citar é o Projeto AmbientAção, de iniciativa da Feam. A "trancos e barrancos", ele conseguiu até a adesão de outras secretarias do Estado e algumas normas relativas a compras e contratação de serviços pela máquina pública. Se são observadas, só Deus sabe. Na prática, desperdício e estrago de materiais são a "lei", mesmo considerando que evitá-los seria positivo para os cofres públicos. Os cemitérios de carros são mostras disso.

No setor privado de forma geral (incluindo prestação de serviços médicos, lazer, transporte, eventos e outros), a adoção de ações relativas ao consumo consciente é também ainda pontual. Na construção civil, algumas empresas já se preocupam com desperdício de água, cimento, brita e outros materiais – mas o setor como um todo continua sendo uma catástrofe ambiental.

Consumo desnecessário e desperdício estão em todos os lugares: nas residências, indústrias, repartições públicas, hospitais, farmácias, escolas, igrejas, bares, restaurantes, eventos e por aí afora. É uma verdadeira orgia "romana" que come os recursos naturais do planeta, confirmando as primitivas ideias de que eles são infinitos e ilimitados, e que a espécie humana poderá continuar se reproduzindo à vontade. Há instituições que ainda se indignam com a simples ideia de controle da natalidade. Principalmente aquelas que vivem da pobreza alheia.

Porém, consumo consciente não é sinônimo de consumo sustentável. Podemos por exemplo reduzir ao máximo o gasto de combustível (consumo consciente), mas poderíamos diminuir muito mais seu uso e dos carros (consumo sustentável), se o transporte coletivo for eficiente.

Se consumo consciente já é difícil de ser adotado, o sustentável nem se fala, pois pressupõe mudanças muito mais radicais que possibilitem manter estoque de recursos naturais suficientes para manter o equilíbrio ambiental do planeta. Leia-se fauna, flora, água, solo e ar, cuja exploração já ultrapassou em muito a fronteira da possibilidade de manter vivos nove bilhões de seres humanos.

*Dalce Ricas é superintendente executiva da Amda

Fonte: revista Ecológico