Defaunação e desflorestação
Roberto Naime*
Segundo o relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) de 2010, entre os anos de 2000 e 2010, cerca de 13 milhões de hectares foram desflorestados anualmente.
Setenta por cento da área foi convertida para a agricultura, gerando uma inevitável perda da diversidade faunística.
Além do desmatamento, a caça e a invasão de espécies exóticas continuam contribuindo para o desaparecimento dos animais ou para a diminuição das populações.
Apenas na Amazônia, 60 milhões de animais são caçados anualmente. O ser humano já vem contribuindo para a defaunação desde a época do Pleistoceno, há doze mil anos atrás. Quando viviam mamutes, preguiças gigantes, tigres-dente-de-sabre e gliptodontes ou "tatus gigantes".
Uma das teorias mais aceitas é que o ser humano contribui para a extinção desta megafauna devido à competição por alimentos e caça, em conjunto com as mudanças climáticas naturais que aconteceram naquela época.
Não por acaso estaria ocorrendo agora uma nova extinção em massa e pelos mesmos motivos, com a diferença de também sermos responsáveis pelas mudanças climáticas, justamente na era chamada Antropoceno.
Nos últimos 500 anos, 322 espécies de vertebrados foram extintas e pelo menos 10 mil espécies continuam a desaparecer anualmente. Antes dos humanos a taxa de extinção era de uma espécie a cada 10 milhões de anos, agora são cem a mil por ano, um aumento de mil vezes.
Se esse ritmo persistir, em 100 anos metade do número de espécies conhecidas desaparecerá e isso mudará completamente a dinâmica dos ecossistemas.
O principal processo afetado é a dispersão de sementes realizada pelos animais, que faz com que a diversidade vegetal fique concentrada em poucas espécies, diminuindo a área verde.
Essa situação acaba causando a degradação dos solos e o assoreamento de rios, atingindo toda homeostase ambiental.
As florestas também agem nos ciclos das chuvas e o seu desaparecimento pode levar a períodos de estiagem, sem contar com toda a biomassa lançada na atmosfera na forma de carbono que acaba impactando diretamente no clima planetário, levando às mudanças climáticas.
As carências de recursos hídricos que atingiram e ainda afetam grandes áreas do país não deixam dúvidas sobre esta hipótese.
E ainda há os serviços ambientais, 75% da produção agrícola do mundo são polinizadas por insetos, morcegos e aves controlam pragas da agricultura.
Ainda predadores que controlam roedores com potencial de disseminação de doenças, vertebrados e invertebrados têm importante papel na ciclagem de nutrientes e também na decomposição. E finalmente os anfíbios controlam a população de algas e de detritos na água.
Os Estados Unidos calculam em 45 bilhões de dólares anuais os serviços ambientais prestados por predadores no combate de pragas da agricultura naquele país.
Mas da mesma maneira que se destrói, pode-se reconstruir. Existem vários casos de sucesso na reintrodução de espécies, como o do mico-leão-dourado, um importante dispersor de sementes da Mata Atlântica, ou do condor californiano, um importante decompositor.
Com o desenvolvimento de técnicas modernas de reprodução assistida pela medicina veterinária, ainda podemos conservar em nitrogênio líquido, o material genético, embriões e gametas de espécies ameaçadas para usarmos mais tarde para clonar espécies desaparecidas ("desextinção") ou mesmo em inseminações artificiais.
Já a tecnologia de aparelhos celulares de biólogos ajuda na localização de populações ameaçadas e na sua preservação.
O mais indicado e menos custoso, é conservar os animais em seu próprio habitat, pois se não existissem áreas protegidas no planeta, o número de perdas estaria 20% maior.
O Brasil, líder mundial de biodiversidade, tem uma função preponderante nisso, pois sustentabilidade não se faz plantando pasto na Amazônia ou eucaliptos no Pampa.
*Roberto Naime é colunista do Portal EcoDebate, Doutor em Geologia Ambiental, integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: Portal EcoDebate