Consumo consciente, Parte 3/4
*Roberto Naime
ALENCASTRO et. al. (2014) registra que a canalização de importantes recursos econômicos para promover o consumo e a venda de mercadorias gera uma produção ideológica de necessidades, desencadeando um desejo insaciável e uma demanda inesgotável por mercadorias.
É uma verdadeira "manipulação das necessidades por interesses adquiridos" na qual os indivíduos perdem sua autonomia, tornando-se "incapazes de ser autônomos, enquanto forem doutrinados e manipulados (até seus próprios instintos)" (MARCUSE, 1973. p. 24 e 27).
É uma situação que exige uma retomada de consciência no que diz respeito à adoção de padrões de qualidade de vida que impliquem perspectiva de valores relacionados à restrição do consumo.
Numa humanização do consumo, que implica necessariamente na conscientização dos indivíduos a respeito da importância de se tornarem consumidores responsáveis, agentes que são da transformação do modelo econômico em vigor, já que têm em suas mãos o poder de exigir um padrão de desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente equilibrado (LEFF, 2001, p.321).
Trata-se do "consumo responsável" ou "consumo consciente". Representado iconicamente pela figura do "consumidor verde", influenciado por questões ecológicas e sociais.
ALENCASTRO et. al. (2014) manifesta que o consumo consciente significa, por exemplo, adquirir produtos a partir de uma avaliação prévia sob o ponto de vista ético, ou seja, cuja elaboração não envolva a exploração de seres humanos, animais e não provoque danos ao meio ambiente.
O consumidor consciente é aquele que tem a capacidade de decidir o que vai consumir, como e qual a origem do produto ou serviço a ser consumido.
Cabe a ele buscar a justa medida entre sua satisfação pessoal e os ditames da sustentabilidade, sempre avaliando o impacto de suas ações de consumo sobre a natureza e a sociedade.
Desta forma seu posicionamento ético se inclinará pela adoção de atitudes que evitem o desperdício ou o gasto desnecessário de um material, utilizando assim os recursos de forma sustentável.
O consumidor, consciente das implicações dos seus atos de consumo, passa a compreender que o seu papel é o de exigir que as dimensões sociais, culturais e ecológicas sejam consideradas pelos setores produtivo, financeiro e comercial, em seus modelos de produção, gestão, financiamento e comercialização.
Por que tipo de transporte se deve optar para se cobrir as distâncias percorridas na execução de atividades cotidianas, de forma a causar menos agressão à qualidade do ar? Que tipo de transporte sustentável está disponível em sua cidade ou região? Que tipo de produção agropecuária pode garantir uma alimentação saudável com o menor nível possível de agressão ao meio ambiente?
Ou que tipo de produção de artigos de vestuário pode garantir a menor agressão possível no meio ambiente? Que tipo de fonte energética garante o menor impacto possível sobre o meio ambiente? Como agir enquanto consumidores para induzir as empresas a levarem em conta as dimensões sociais, culturais e ecológicas no seu modo de produção e gestão?
E finalmente como reduzir o consumo de bens supérfluos e o acúmulo e descartes excessivos de materiais? Como estabelecer uma estratégia educativa que promova a nova ética do consumo? E como identificar um produto ou serviço ambientalmente sustentável?
Apesar da onda de otimismo que acompanha os adeptos do "consumo consciente", seus críticos apontam para uma fragilidade que merece consideração.
A questão apontada por eles é contundente: será mesmo possível dar crédito a esta concepção, visto que o consumo ocupa um lugar central na vida cotidiana transformando-se na "principal força operativa da sociedade" (BAUMANT, 2008).
ALENCASTRO et. al. (2014) asseveram um complicado problema teórico, pois, ao lado do discurso da sustentabilidade coexiste todo um sistema que se alimenta e vive em função do consumo de massa.
Um olhar em direção ao cotidiano já desvela as dificuldades a serem enfrentadas pelos defensores do consumo consciente. O incentivo à aquisição de bens de consumo é imenso, haja vista o crescimento do número de carros vendidos anualmente no Brasil, um exemplo bastante ilustrativo da situação.
Para LIPOVETSKY (2009) a expansão das necessidades de consumo é mantida sob a lei da obsolescência, da sedução e da diversificação.
*Artigos anteriores desta série:
*Roberto Naime é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Fonte: EcoDebate