Proteger a natureza, proteger a vida
*Marcus Eduardo de Oliveira
Se o desenvolvimento, na acepção do termo, tem alguma finalidade ímpar, daquelas consideradas imprescindíveis, certamente é a de promover o progresso do homem em todas as dimensões.
Para se chegar a isso, é de fundamental importância, antes, proteger a natureza, pois isso implica proteger a vida, uma vez que a interferência do homem na natureza, cada vez de forma mais intensiva e dilapidadora, afeta a busca pelo propagado progresso, pois resulta em sérios desequilíbrios ecológicos: derrubada de florestas, efeito estufa, poluição do ar, da água, esgotamento dos solos, extermínio da fauna, destruição ecossistêmica etc.
E todos esses desequilíbrios, sem exceção, afetam o modo de bem viver dos povos, ferindo sensivelmente o que se convenciona entender por qualidade de vida.
Sem a proteção da natureza, a vida corre riscos. Isso é fato, e não retórica barata. Como bem apontou James Lovelock, em "As Eras de Gaia" (1991), a vida na Terra depende da harmonia entre o homem e a natureza.
Cada vez que essa harmonia fica mais distante, ou sofre abalos, mais aguda se torna a preocupação na manutenção do vital equilíbrio entre a vida e a natureza, gerando incertezas e intranquilidades, afastando-se assim da paz, da serenidade a que todos, de certa forma, almejam alcançar.
Nesse pormenor, P. Weil, em "A Arte de Viver em Paz" (1993), assevera que (…) não pode haver verdadeira paz no plano pessoal quando se sabe que reinam a miséria e a violência no plano social ou que a natureza nos ameaça com a destruição porque nós a devastamos.
Tal preocupação se torna mais intensa à medida que damos conta que em nenhum outro momento registrado pela história o Planeta foi tão agredido, como está sendo no momento, no que toca a exaustão dos recursos da natureza para a satisfação dessa sociedade de consumo ora em voga, intimamente arraigada à cultura do "ter".
Essa sociedade de consumo, essa cultura do "ter", verdadeiras ervas daninhas, se alinham ao crescimento populacional, às "necessidades" consumistas e a estapafúrdia ideia recorrente de que fazendo a economia crescer, via produção de suntuosidades, o bem-estar se torna presente.
Quando se verificam os números que embasam esses aspectos, o susto fica ainda maior: desde o começo da industrialização (século 18), a população mundial cresceu oito vezes, consumindo muito mais recursos extraídos do sistema-Natureza; somente a produção, baseada nessa exploração, cresceu, em igual período, mais de cem vezes.
Ou seja, estamos indo para 300 anos de intensa destruição ambiental, no qual o homem tem se comportado como verdadeiro "dono do mundo", espécie de mandatário supremo da natureza.
E por que isso ainda acontece? Porque a economia não respeita os limites da natureza; porque a atividade econômica produtiva ignora as fronteiras ecossistêmicas e obedece cegamente à ordem que emana do mercado de consumo que "pede" mais crescimento com mais produção de mercadorias.
Isso resulta na dilapidação dos vitais ecossistemas, no aquecimento global, na erosão da biodiversidade, na degradação dos recursos hídricos. Lamentavelmente, o sistema econômico não leva em conta a seguinte premissa: mais crescimento físico da atividade econômica significa completo esgotamento de recursos da natureza; verdadeiro aumento de entropia (degradação).
É preciso ficar claro que o aumento de produção econômica representa, no cômputo final, menos natureza, menos florestas, solo, água, ar, clima estável e, no final, mais resíduos e muito mais poluição.
Os números quanto a isso não mentem, para ficarmos em apenas dois únicos exemplos: para se fazer um hambúrguer de 100 gramas são necessários 11 mil litros de água; a fabricação de um simples jeans consome 8 mil litros de água e o equivalente a 32 quilos de recursos naturais.
O que isso representa? A partir de certo "tamanho da economia" ocorre mais custos (perdas) socioambientais que benefícios (ganhos) oriundos da produção material.
Ao desproteger a natureza para benefício de um sistema econômico doentio que faz vicejar a produção, todos, sem exceção, perdemos, uma vez que colocamos e comprometemos a própria manutenção da vida em sério risco.
*Marcus Eduardo de Oliveira é Economista. Mestre pela USP, com passagem pela Universidade de Havana (Cuba). E-mail: prof.marcuseduardo@bol.com.br
Fonte: Expresso MT