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Falta de fiscalização e infraestrutura precária agravam tragédia ambiental na Serra de São José, em Tiradentes

Estima-se, segundo moradores da região, que cerca de 90% da Serra de Tiradentes, o bloco rochoso mais próximo da cidade histórica, tenha sido devastado pelas chamas

Falta de fiscalização e infraestrutura precária agravam tragédia ambiental na Serra de São José, em Tiradentes

Serra de São José ardeu por quatro dias; termômetros do muncípio chegaram a marcar 35° C durante o incêndio | 📷 Luiz Cruz

O incêndio que consumiu, nos últimos quatro dias, grande parte do Refúgio de Vida Silvestre Libélulas da Serra de São José (Revs), unidade de conservação que abrange os municípios de Tiradentes, Prados, Santa Cruz de Minas e São João del Rei, em Minas Gerais demonstra a ausência de políticas públicas efetivas voltadas à proteção e preservação do patrimônio natural no Campo das Vertentes, bem como nas demais regiões do estado.  

Estima-se, segundo moradores da região, que cerca de 90% da Serra de Tiradentes, o bloco rochoso mais próximo da cidade histórica, tenha sido devastado pelas chamas. A declividade acentuada do terreno dificulta o combate ao fogo, mesmo com uso de aviões e helicópteros.

Apesar de suas duas décadas de existência, a infraestrutura mantida pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) no Refúgio ainda é precária e insuficiente para garantir a integridade da Reserva. Não há fiscalização suficiente e controle regular de entrada na unidade, o que agrava a vulnerabilidade da área a incêndios e outras ameaças.

Unidades de conservação próximas a áreas urbanas, como é o caso do Revs São José, são ainda mais suscetíveis ao fogo. “É fundamental que as UCs criem plano de prevenção, envolvendo órgãos públicos, escolas, comunidades vizinhas, construção de aceiros, e incentivos à criação de brigadas voluntárias. Sem essas medidas, tragédias como esta continuarão a ocorrer”, afirma Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da Amda.

O município de Tiradentes recebeu R$ 618.503,99 em ICMS Ecológico em 2024, recurso que deveria ser destinado, pelo menos em parte, à conservação ambiental e proteção do patromônio natural local.

Investigação

O professor e doutor Luiz Cruz, especialista em manejo de unidades de conservação, percorreu a área queimada e identificou indícios de que o incêndio pode ter sido causado por pessoas que soltam cavalos dentro da Reserva.

 “Vi dejetos de cavalos por diversos pontos. Acredito que o fogo possa ter sido colocado por criadores de cavalos que são soltos nas duas UCs e quando o capim seca no período de estiagem, colocam fogo para forçar rebrota”. Ele alerta também, a possibilidade de que o fogo tenha sido ateado em pontos diferentes, o que explicaria seu rápido avanço.

O Refúgio completou 20 anos de criação em novembro de 2024 e é reconhecido como uma das localidades mais ricas do mundo em espécies de libélulas, abrigando cerca de 50% de todas as libélulas conhecidas em Minas Gerais e 18% das encontradas no Brasil. A unidade preserva três biomas: Mata Atlântica, Campos Rupestres e Cerrado, tornando-se patrimônio ambiental de valor inestimável por sua riquíssima biodiversidade.

A Amda encaminhou ofício à Polícia Civil, solicitando investigação rigorosa dos motivos e dos possíveis autores do incêndio. Embora seja difícil estabelecer conexão direta entre incendiários e o fogo, muitas vezes os motivos são evidentes. A investigação policial, por si é intimidatória e importante para coibir ação de incendiários.