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Energia limpa pode virar sujeira socioambiental

Semad/MG autoriza usina solar com derrubada de 4.724,5 hectares de Cerrado.

Energia limpa pode virar sujeira socioambiental

Press release

Belo Horizonte, 22 de maio de 2025 – Derrubar quase cinco mil hectares de Cerrado é o que pretende a Empresa Desenvolvedora de Empreendimentos Energéticos Ltda., para instalar empreendimento de geração de energia solar em Bonito de Minas (MG), denominado Complexo Solar Veredas.

Incompreensivelmente, o empreendimento foi classificado pela Semad como de “baixo impacto ambiental’, e ganhou Licença Ambiental Simplificada. Ele seria instalado parcialmente dentro das APAs Estadual do Rio Pandeiros e Federal Cavernas do Peruaçu, e nas zonas de amortecimento dos parques Estadual Veredas do Peruaçu e Nacional Cavernas do Peruaçu, e próximo às Comunidades Quilombolas Veredeiras Cabeceira do Borrachudo e Salto do Borrachudo, ambas reconhecidas pela Fundação Palmares.

A Amda recebeu diversas denúncias de que as unidades de conservação e comunidades não foram consultadas. A área é prioritária para conservação da biodiversidade conforme documentos oficiais da própria Semad. Fica ao lado do Parque Veredas do Peruaçu e é coberta por Cerrado em estágio avançado de regeneração. A enorme Vereda do Borrachudo, localizada na região, cuja integridade depende da conservação do Cerrado, poderá sofrer graves impactos ambientais pelo desmatamento. Nas terras áridas do Norte de Minas, Cerrado, Veredas e fauna são interdependentes.

Para a Amda, a Semad parece ter esquecido disto, pois no parecer técnico, claramente ilegal, descreveu os impactos sobre a fauna em menos de uma linha de texto. “Minas não tem política pública de proteção da fauna. Parece que tem “política de extinção”, ironiza Dalce Ricas, superintendente da entidade.

A entidade entende que a porta está aberta para destruir o Cerrado em Minas. A região tem milhares de hectares já desmatados, mas o empreendedor e o governo querem implantar a usina, justamente em área onde vivem espécies da fauna raríssimas, como a onça-pintada e a última população do cachorro-do-mato-vinagre avistada no Estado.

Matéria publicada pela Globo News mostra que parte da região Norte de Minas, está dentro do perímetro onde se concentraram os maiores desmatamentos no Cerrado em 2024. Destaque para o desmatamento no norte de Minas, englobando a área da APA Cochá-Gibão.

O Cerrado que será desmatado para implantar a usina é área de recarga do lençol freático relevante para manutenção das veredas do Rio Pandeiros, um dos mais importantes afluentes do rio São Francisco, abrigando o “Pantanal Mineiro” e áreas de reprodução de grande número de espécies de peixes.

“Não há dúvida que o empreendimento é de significativo impacto ambiental e não poderia ter sido direcionado para licenciamento simplificado. A Feam tem total prerrogativa e dever, de exigir elaboração de EIA-Rima, diz Lígia Vial, assessora jurídica da Amda.

“A energia solar é importante no combate à crise climática, mas porque as usinas não são instaladas em áreas já desmatadas, degradadas ou subutilizadas, o que tem de sobra em Minas?”, questiona Ravi Mariano, doutor em ciências florestais, assessor técnico da entidade.

A Amda encaminhou representação aos Ministérios Públicos Estadual e Federal.