Brasil é o segundo país com mais mortes de ambientalistas
América Latina corresponde a 85% dos assassinatos.
O Brasil segue sendo um dos países mais perigosos para defensores do meio ambiente, liderando as mortes de ambientalistas. Um levantamento da ONG Global Witness revelou que, em 2023, pelo menos 25 ativistas foram assassinados no país. Isso coloca o Brasil em segundo lugar no ranking global de mortes de ambientalistas.
No mundo todo, 196 ativistas perderam a vida no último ano, sendo que 85% dessas mortes ocorreram em países da América Latina. Entre os países mais perigosos para quem luta pela preservação ambiental, além do Brasil, estão Colômbia, liderando o ranking com 79 mortes, México e Honduras, com 18 mortes cada.
No Brasil, mais da metade das vítimas assassinadas no ano passado eram indígenas, e quatro afrodescendentes. Os dados refletem a vulnerabilidade dessas populações em meio a conflitos por terra e recursos naturais.
Os povos indígenas são historicamente os maiores protetores da biodiversidade. Segundo o levantamento, eles representam 43% dos ativistas mortos em 2023. Esses números reforçam a necessidade de uma maior proteção para essas comunidades, que desempenham um papel essencial na conservação das florestas e ecossistemas.
Hoje, em 90 países, povos indígenas administram mais de um terço das terras protegidas e preservam cerca de 80% da biodiversidade remanescente no planeta.
Além de indígenas, mulheres também representam um número expressivo. Elas correspondem a 12% dos ambientalistas assassinados, de acordo com o relatório, que monitora essas violências há 11 anos.
A violência diminui, mas desafios permanecem
Apesar da gravidade dos números, o Brasil apresentou redução nas mortes de ativistas ambientais em 2023. Os assissatos passaram de 34 casos em 2022 para 25 no ano passado. Ainda assim, a diminuição não elimina os desafios enfrentados pelos defensores do meio ambiente no país.
Grandes empreendimentos agropecuários e a mineração ilegal, muitas vezes em áreas protegidas, somados à falta de fiscalização, ainda ameaçam a vida de ativistas e a biodiversidade.
Política e impasses
A chegada de Lula à presidência trouxe esperança de políticas ambientais mais fortes, após o desmonte de órgãos de proteção no governo Bolsonaro. Houve avanços, como a retomada de recursos para proteger a Amazônia.
No entanto, o relatório ressalta que a pressão da bancada ruralista, que domina o Congresso Nacional e defende os interesses de grandes latifundiários, representa um obstáculo significativo para o avanço de uma agenda de preservação e de proteção aos povos tradicionais. Reformas fundamentais, como a reforma agrária, seguem travadas.
“Os governos não podem ficar de braços cruzados; devem tomar medidas decisivas para proteger os defensores e abordar as causas estruturais da violência contra eles. Os ativistas e suas comunidades são essenciais nos esforços para prevenir e reparar os danos causados por setores prejudiciais ao clima”, reforça Laura Furones, consultora sênior da Global Witness e autora do relatório.
Enquanto as disputas políticas continuam, os ativistas seguem na linha de frente, protegendo ecossistemas fundamentais para a manutenção do equilíbrio climático, mas pagando um preço alto por sua coragem.