Aquecimento de 0,1°C provoca 360 desastres climáticos no Brasil
Entre 2020 e 2023, quase 78 milhões de brasileiros foram impactados por eventos climáticos extremos.

Um estudo inédito confirmou a relação direta entre o aumento da temperatura média global e a escalada dos desastres climáticos no Brasil. Para cada 0,1°C de elevação na temperatura, o Brasil registra, em média, 360 novos desastres naturais, como secas, enchentes e tempestades.
Os dados são do estudo 2024 – O Ano Mais Quente da História, produzido pela Aliança Brasileira pela Cultura Oceânica, em parceria com a Unifesp e a UNESCO. O levantamento aponta crescimento de 460% nos desastres climáticos ao longo de três décadas. Enquanto na década de 1990 o Brasil registrava cerca de 725 eventos por ano, esse número saltou para 4.077 na última década.
Os desastres climáticos afetam o meio ambiente assim como causam prejuízos econômicos. Para cada 0,1°C de aumento na temperatura global, os prejuízos financeiros no Brasil crescem em R$ 5,6 bilhões, afetando setores como infraestrutura, agricultura e saúde pública.

As conclusões da pesquisa reforçam os alertas da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que confirmou 2024 como o ano mais quente desde o início dos registros. Como resultado, enchentes, deslizamentos de terra e secas são cada vez mais frequentes.
“Quando se fala de mudança climática, parece um tema muito distante ou difícil. Agora a gente sabe o quanto cada 0,1 grau representa de aumento de prejuízo, de desastres e de número de vidas que são impactadas. Isso ajuda a tangibilizar como que a temperatura impacta”, explica Janaina Bumbeer, coautora do estudo e gerente de projetos da Fundação Grupo Boticário.
Desastres climáticos no Brasil cresceram exponencialmente
A pesquisa cruzou dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID), do governo brasileiro, com os registros globais de temperatura do Climate Reanalyzer, da Universidade de Maine (EUA). Foram analisados apenas os desastres oficialmente classificados como “desastres naturais”.
Desde 1991, o Brasil registrou 64.280 ocorrências climáticas extremas, afetando 5.117 municípios – ou seja, 92% do território nacional. Somente entre 2020 e 2023, o número de desastres foi 2,5 vezes maior do que na década de 1990.
Os eventos climáticos mais frequentes no Brasil são:
- Secas – 50% dos registros nos últimos 32 anos
- Enchentes e enxurradas – 27% das ocorrências
- Tempestades (vendavais e chuvas intensas) – 19%
Além dos danos ambientais, o impacto econômico é alarmante. O estudo mostra que, para cada 0,1°C de aumento na temperatura global, os prejuízos financeiros no Brasil crescem R$5,6 bilhões, afetando infraestrutura, agricultura e saúde pública.
Nos últimos quatro anos, quase 78 milhões de brasileiros foram impactados por desastres naturais, o equivalente a 70% do total registrado na década anterior. Desde 1991, mais de 219 milhões de pessoas sofreram com eventos climáticos extremos, um número equivalente à população atual do país.
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Projeções futuras
De acordo com estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o número de desastres naturais no Brasil pode dobrar até 2050. E caso não haja uma redução drástica das emissões de gases de efeito estufa, poderá aumentar em até nove vezes até 2100.

No pior cenário, com um aumento da temperatura global acima de 4°C até o fim do século, o Brasil poderá registrar quase 600 mil eventos climáticos extremos. Assim, os prejuízos financeiros podem ultrapassar R$8 trilhões, colocando a crise climática entre os maiores desafios econômicos do país.
Falta de investimentos agrava o problema
Embora desastres climáticos sejam cada vez mais frequentes e intensos, os investimentos em prevenção e mitigação de riscos climáticos têm diminuído. Entre 2012 e 2023, houve redução média de quase R$200 milhões anuais nos recursos destinados a essas ações.
Especialistas alertam que, para evitar um colapso climático e social, é essencial limitar o aquecimento global a, no máximo, 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Ou seja, governos, empresas e a sociedade precisam adotar medidas concretas para reduzir emissões e fortalecer políticas de adaptação e resiliência.
“Os dados mostram que precisamos agir agora e de forma ambiciosa. É importante aumentar o investimento e ter uma política ambiental forte para que tenhamos uma economia mais forte”, reforça Janaína.