Prevenção e combate reduzem pela metade incêndios florestais em área de recarga hídrica da RMBH, aponta estudo
Pesquisa reuniu dados das últimas quatro décadas, registrando queda de 53% da média anual de ocorrências no território analisado
20 de outubro de 2025
A análise foi realizada em uma área de 82 mil hectares conhecida como Sinclinal Moeda, região que abriga nascentes responsáveis por grande parte do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) | 📷 Arquivo Amda
Levantamento publicado na edição mais recente da Revista Científica Biodiversidade Brasileira, do ICMBio, mostra redução significativa dos incêndios florestais em áreas que contam com brigadas estruturadas de prevenção e combate ao fogo.
A pesquisa estabeleceu como recorte geográfico uma área de 82 mil hectares conhecida como Sinclinal Moeda, região que abriga nascentes responsáveis por grande parte do abastecimento de água da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Entre elas, as bacias dos rios Paraopeba e das Velhas, que juntas garantem mais de 90% da disponibilidade hídrica da capital.
Sinclinal Moedas (RMBH)
Os dados foram compilados entre 1985 e 2022 mapeando a evolução dos incêndios no território a partir da base MapBiomas Fogo.A compilação permitiu aos pesquisadores identificar uma queda brusca dos incêndios florestais a partir de 2012, após a implantação das primeiras brigadas profissionais de prevenção e combate operadas pela Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda) na região.
De 2008 a 2012, a média anual de área queimada no Sinclinal Moeda era de 11.503ha. Após este período, a área consumida anualmente pelas chamas foi inferior a 4.500ha ao longo de toda a década seguinte.
“A diminuição da área atingida pelos incêndios, assim como do número de ocorrências representa uma considerável diminuição dos impactos negativos aos ecossistemas locais, permitindo que as áreas em regeneração continuem a avançar no processo de sucessão ecológica”, avalia Ravi Mariano, doutor em engenharia florestal e assessor técnico da Amda, um dos responsáveis pelo estudo.
Os índices apontam também diminuição dos impactos sobre os recursos hídricos, uma vez que os incêndios com frequência atingem matas ciliares, fundamentais no controle de erosão e manutenção da quantidade e qualidade da água na região.
A exemplo do que vem ocorrendo no Sinclinal Moeda, outros trabalhos têm apontado a eficácia de brigadas na redução dos padrões temporais de incêndios florestais. “Estudo realizado no Tocantins mostrou redução dos focos de calor após implantação de brigadas indígenas”, acrescenta Mariano.
ESTRUTURA E AMPLIAÇÃO
Para o biólogo Francisco Mourão, coordenador operacional de Brigadas da Amda, os resultados obtidos na área pesquisada são percebidos também em outros territórios que mantêm brigadas de incêndio implantadas pela ONG.
“Não temos dados e estudos que comprovem essa redução em outras áreas, mas registros de ocorrências em campo vem diminuindo a cada período crítico de incêndios florestais. Além disso, a ampliação da Brigada Amda contribui para manter a média das ocorrências em constante queda ano a ano”, conta o biólogo.
Em 2013, a Brigada Amda Sinclinal Moeda contava com quatro equipes, articulando 33 brigadistas. Já em 2022 , a estrutura da entidade no local foi ampliada para 20 equipes, com 147 brigadistas envolvidos. No total, a Amda conta atualmente com 37 brigadas ativas, formadas por cerca de 340 brigadistas em todas as regiões do estado.
MANEJO, PREVENÇÃO E COMBATE
A superintendente executiva da Amda, Dalce Ricas, lembra que, diante das evidências do estudo, é imperativa a estruturação efetiva de Planos de Manejo Integrado do Fogo (PMIF) em todas as áreas protegidas do estado. “O Manejo Integrado é fundamental para a redução do estoque de biomassa em áreas mais vulneráveis. A estratégia vem sendo largamente usada em todo o mundo e também no Brasil. Em Minas, o governo resistiu durante anos à adoção da prática e só regulamentou o uso do fogo prescrito em 2020”, salienta.
Minas Gerais conta com 95 unidades de conservação estaduais, das quais 76 são de proteção integral. Iniciativas pontuais de elaboração e desenvolvimento de PMIF estão em andamento em algumas unidades de conservação do estado, por meio de parcerias técnicas envolvendo órgãos públicos e ONGs. No entanto, ainda não há um número consolidado e atualizado oficialmente pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) do total de UCs que já contam com planos elaborados.