Conheça Caliandra, lobo-guará símbolo de projeto de reintrodução no Cerrado
Órfã e com aproximadamente três meses de vida, Caliandra foi resgatada quase morta à beira de uma estrada, em agosto de 2020. Dois anos depois, ela foi solta em uma área de Cerrado no Oeste da Bahia. Em 2023, veio a notícia mais esperada: a loba se reproduziu e deu à luz a três filhotes.
Caliandra faz parte de um projeto inédito de reabilitação e soltura do lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), em vida livre no Cerrado baiano. A iniciativa é executada no Parque Vida Cerrado, em Barreiras, em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), empresas e organizações da sociedade civil.
Ela foi o primeiro caso de reintrodução bem-sucedida de um lobo-guará na natureza. Durante dois anos, Caliandra passou por um treinamento de caça e defesa para se readaptar ao ambiente natural, já que ficou órfã muito nova e não foi ensinada pelos pais.
A loba foi solta junto de Baru e Siriguela, filhotes de lobo-guará também resgatados órfãos e treinados para voltar à natureza. Nos primeiros três meses de soltura, eles puderam recorrer a um recinto de aclimatação, que simula um habitat natural, caso tivessem dificuldade em se alimentar. O processo é chamado de soltura branda.
Até agora, cinco lobos já foram soltos e três continuam sendo monitorados pela equipe responsável. Eles são monitorados por um monitor cardíaco e colares de rastreamento. No primeiro ano de soltura, Caliandra percorreu uma área aproximada de 100 mil hectares, o que surpreendeu os pesquisadores.
A chegada dos filhotes
Neste ano, a equipe foi surpreendida com o nascimento de três filhotes, de Caliandra e outro lobo reintroduzido, o José Bonifácio. Os lobinhos foram registrados por câmeras de segurança em setembro, mas os pesquisadores acreditam que eles tenham nascido no meio do ano.
“O maior indício de uma reintrodução de sucesso é quando o animal é capaz de reproduzir, pois ele cumpre o papel de gerar sua própria ninhada”, ressalta Gabrielle Bes da Rosa, bióloga e coordenadora do Parque Vida Cerrado.
Para Gabrielle, a reintrodução e soltura de filhotes órfãos de lobo-guará é um grande desafio. Se não fosse pelo trabalho de acolhimento, treinamento e soltura, os únicos destinos seguros para os animais seriam criadouros ou zoológicos, em caráter permanente.
A lobo-guará
Embora seja o maior canídeo da América do Sul, lobo-guará é tímido, inofensivo e solitário. A espécie ocorre ao longo da América do Sul, do Uruguai ao Brasil, onde está 90% de sua população.
O lobo-guará é onívoro, por isso se alimenta de animais (pequenos roedores, aves, insetos) e vegetais, com destaque para a fruta-do-lobo, a base da sua alimentação.
Parte do estigma de “mau” se deve ao hábito dele se alimentar, ocasionalmente, de galinhas e outros animais domésticos. Mas, isso só ocorre por causa degradação de seus habitats, que restringe sua alimentação natural.
A destruição do Cerrado é a maior ameaça à sobrevivência do canídeo. Caça, incêndios, doenças transmitidas por cachorros e atropelamento completam a lista de perigos que ele enfrenta. Atualmente está classificado como “vulnerável” pelo Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.