Maior parte da área queimada no “Dia do Fogo” vira pasto na Amazônia
Mais da metade da área queimada por fazendeiros, madeireiros e empresários no fatídico “Dia do Fogo”, em agosto de 2019, deu lugar a pastagens em São Félix do Xingu, Altamira e Novo Progresso, no Pará. Os municípios são responsáveis pela maior parte dos incêndios que aumentaram em 1.923% os focos de calor no estado.
A análise é do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) com base em dados do Monitor do Fogo. O levantamento mostra que 61% da área queimada no entorno da BR-163 durante a ação foi transformada em pasto e 37,4% não foi destinada a nenhuma atividade.
Altamira concentra o maior território convertido em pastagens (75,4%), enquanto 23,1% não recebeu destinação e virou floresta degrada. Logo após aparece Novo Progresso, com 67,1% de pasto e 31,3% de floresta degradada e São Félix do Xingu, com 48,7% e 49,8%, respectivamente.
Estragos por toda Amazônia
Embora o Dia do Fogo tenha se concentrado no Pará e Mato Grosso, outros quatro estados da Amazônia Legal (Amazonas, Rondônia, Acre e Maranhão) também registraram incêndios de grandes proporções.
“O fato desses incêndios terem chegado tão longe, a partir de um crime coordenado por grupos de Novo Progresso, só mostra que as pessoas que colocaram fogo na floresta estavam articuladas em maior parte da Amazônia brasileira, especialmente nos estados com alta concentração de terras indígenas e áreas protegidas”, comenta Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM.
O volume de áreas que foram queimadas sem motivo, isto é, queimadas por queimar, é o que mais impressiona os pesquisadores. Em toda a Amazônia Legal foram queimados mais de 11,5 mil km² de floresta no episódio. Desse total, cerca de 6 mil km² (52,3%) viraram pasto e 46,6% floresta degradada.
“Normalmente, o comportamento observado depois da queima é a alteração no uso do solo, seja com conversão para pastagem ou agricultura, por exemplo. Mas vemos que as áreas de floresta queimada no Dia do Fogo não tiveram esse mesmo destino, ou pelo menos ainda não”, ressalta o pesquisador do IPAM Felipe Martenexen.