Documentário inédito sobre caça de animais silvestres no Brasil é exibido na Terça Ambiental
2 de outubro de 2019
Dêniston Diamantino
Sorrateiros, pacientes e impiedosos. Assim são os caçadores que se dedicam à chamada caça de espera. Pela primeira vez um documentário retrata e denuncia a atividade ilegal. A obra “Esperas – caçadas e caçadores no interior do Brasil” foi lançada com exclusividade pela Terça Ambiental nesta terça-feira (01).
Em 2011, Dêniston Diamantino, produtor do documentário, estava visitando um parque no norte de Minas Gerais quando avistou um caçador no alto de uma árvore. Indignado, pensou em chamar a polícia, mas bastou uma distração para o homem desaparecer. Ele então decidiu se infiltrar no mundo das caçadas e produzir o documentário.
Por quase oito anos Diamantino acompanhou vários caçadores em diferentes cidades mineiras e conheceu de perto as estratégias cruéis. Todas as imagens do filme são reais e os nomes dos caçadores são fictícios.
Na caça de espera, foco do documentário, o caçador fica em uma espécie de rede no alto da árvore, à espreita por horas aguardando movimentação dos animais. Um dos alvos preferidos é o “lambedor”, onde os bichos matam a sede. “Pode subir [na árvore] que mata mesmo. O lambedor é infalível”, afirmou um personagem.
Os locais onde o animal se alimenta e dorme também são alvos dos caçadores. Eles avaliam as pegadas e sua frequência para escolher o ponto ideal. Também é comum criarem um novo espaço de alimentação, que é abastecido por um período até que o bicho se acostume com o novo cenário. Quando ele não tem mais receios, o ataque é mortal.
Veado, caititu, paca, cutia, tatu, capivara, onça. Esses são apenas alguns animais vítimas dos caçadores. No caso do veado, segundo um personagem, eles tiram o couro para vender e enterram o corpo para evitar o ataque de urubus, que denuncia a atividade ilegal.
Diamantino ficou assustado com a quantidade de caçadores e como a atividade é uma prática esportiva comum, de lazer. Um dos caçadores disse que é “vocação”, outro, um “vício”. “Prefeito, vice-prefeito, aposentado, comerciante. Nenhum caça por necessidade, mas como esporte”, relatou o produtor. Ele conheceu um homem que “só come caçada” e mostrou seu congelador repleto de pedaços de carne de animais silvestres.
Embora a caça seja proibida há mais de 50 anos no Brasil, os caçadores demonstram não ter nenhum receio. Um dos personagens afirma que não tem medo da polícia e que, em caso de perseguição, ele conseguiria se esquivar facilmente pela floresta.
A obra escancara uma realidade cruel e mais comum do que grande parte da população possa imaginar. Embora 93% dos brasileiros sejam contrários à caça de animais silvestres, de acordo com pesquisa encomendada pela WWF, alguns parlamentares e o próprio presidente Jair Bolsonaro se posicionam favoravelmente à matança impiedosa por lazer. Reflexo disso são cinco projetos de lei em tramitação na Câmara dos Deputados com objetivo de liberar a atividade. O mais recente é o PL 3723/2019 que, originalmente, tratava da flexibilização do porte e posse de armas e munições para regulamentar decretos de Bolsonaro sobre o tema. Mas um artigo “jabuti” incluído pelo relator do PL, deputado Alexandre Leite (DEM-SP), libera a caça de animais silvestres no país. A proposta deve entrar em pauta na próxima semana.
Você pode se juntar a nós na luta pela proteção dos animais pressionando os parlamentares pelas redes sociais pedindo a retirada do artigo “jabuti”, de nº 21-AB, e para que a proposta não seja pautada sem discussão com a sociedade. Junte-se a mais de 973 mil pessoas e assine a petição online contra a liberação da caça de animais silvestres no Brasil.