Conflito entre fauna silvestre e centros urbanos é tema da Terça Ambiental
Conscientização e sensibilização: palavras-chave quando se trata do conflito entre fauna silvestre e centros urbanos. A Terça Ambiental de maio, que aconteceu nesta terça-feira (8), tratou sobre o assunto. O convidado da Amda foi Daniel Vilela, formado em medicina veterinária pela UFMG, metre em reprodução animal, doutor em ciência animal e gestor do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Ibama.
Desde 2002 Vilela trabalha com fauna silvestre e coleciona histórias para contar. Segundo ele, o Cetas recebe em média 10 mil animais por ano. Desse montante, 20% são relacionados a conflitos urbanos: micos roubando comida, barulho das maritacas, ninhos de gambás ou corujas no forro do telhado ou a morte de galinhas.
O palestrante ressaltou que a presença de fauna silvestre nos centros urbanos trás vários benefícios, como equilíbrio ambiental (serviços ecossistêmicos) e melhora na qualidade de vida da população humana. Em sua maioria, os conflitos entre homens e animais acontecem por desconhecimento da biologia e comportamento das espécies silvestres (reprodução, dieta, hábitos); equívocos em relação aos riscos associados à presença dos bichos (ataques improváveis, doenças); e, atualmente, uma menor familiaridade com a fauna nativa por parte da população.
Um dos principais conflitos é a “invasão domiciliar”. Ao serem alimentados, os animais entendem que ali é uma fonte de comida e incluem o local em sua rota diária. Alguns podem se deliciar até com a ração do cachorro ou gato. Vilela enfatizou a importância de não alimentar nenhum animal silvestre, visto que nossos alimentos são processados e cheios de substâncias químicas que podem prejudicar os bichos, além de alterar sua dieta e hábitos naturais.
Manter contato com os animais também é prejudicial e pode causar graves impactos. “Atendemos uma ocorrência sobre a morte de vários micos e descobrimos que a causa era herpes humana. Para nós, é uma doença mais voltada para cunho estético. Para os micos, foi uma sentença de morte”, lamentou.
Vilela lembrou o recente e grave conflito entre humanos e macacos diante do maior surto de febre amarela já registrado no país. Milhares de animais foram envenenados, apedrejados ou mortos a pauladas por uma culpa que não lhes pertence. Os macacos, assim como os humanos, são vítimas da doença. Além disso, ao serem contaminados, fazem o papel de “sentinela”, alertando para o surgimento da doença naquela região. No Rio de Janeiro, o número de animais mortos por agressão foi o dobro daqueles que foram vítimas da doença.
O veterinário enfatizou que é impossível extinguir os animais silvestres do espaço urbano, sendo urgente a necessidade de aumentar a conscientização e nível de conhecimento da população, adotar medidas para reduzir riscos de conflitos (evitar áreas com ninhos na época de reprodução, fechar os espaços abertos no telhado, por exemplo) e aceitar os “novos” vizinhos.
Vilela também apresentou a cartilha da qual é coautor, intitulada “Gestão de Conflitos com Animais Silvestres em Centros Urbanos”. O material foi elaborado pelo Ibama, Grupo Especial de Defesa da Fauna (GEDEF) do Ministério Público de Minas Gerais e Centro Universitário de Sete Lagoas (UNIFEMM). O informe técnico apresenta a origem dos conflitos e possíveis soluções, esclarece dúvidas sobre os principais animais envolvidos em conflitos e responde dúvidas frequentes. A cartilha também está disponível online.